
Adoro-te Facebook.
Às vezes,
não tenho paciência, pronto. Esgota-se, acaba-se e desfaz-se no ar, deixa-me e
vai por aí! Desculpem, mas já não se aguenta tantos selfies nas festas, na
discoteca, tanta promoção de tanta escrita e má escrita, tantos sorrisos de concupiscência
(uf! tive de ir ao dicionário),tantos minha querida és a melhor, em quê? - nunca
se sabe. E ,vezes sem conta, vai tomar banho, já recebeste o teste? Não recebi
um sms e estou a roer as unhas, depois do dinheirão que gastei a arranjá-las. Vai
fazer os trabalhos de casa e a paciência a desaparecer nas linhas da folha de
vencimento a acenar à puta da crise. As caras de felicidade do namorado
arranjado ontem. A prenda que os pais ofereceram porque o curso de direito é
muito difícil. Tanta confusão entre o Miró e o próprio cu. As cartas dos pais
para os filhos e dos filhos para os netos e as outras cartas a implorar por um
futuro cheio de esperança para os filhos que estão nos colégios com futuro, e têm padrinhos naqueles sítios que toda a gente sabe. Tanta lágrima a
escorrer pela testa, quando morre alguém conhecido, mas que ninguém conhece.Tanta invejinha adoçada pelas fatias douradas feitas na BimBy. E as unhas de
gel a fazer conjunto com as flores, os anjinhos e as mãos postas em Deus. E as
frases, as liçõezinhas, as certezinhas. Os conselhos tão bonzinhos. Ai! Às vezes,
a paciência vai pelo ralo abaixo, entope os canos (por que é que ninguém mostra
os canos entupidos, as banheiras com as tintas a saltar e o soalho riscado e a
apodrecer, porque a casa de banho da vizinha de cima está cheia de repasses?) e
mistura-se com o cotão que já lá estava, a paciência, claro. A seguir lá vem
mais um lacinho, um amor ilóviu e fica tudo a olhar para ondas gigantes e a
ocidental praia lusitana a encolher. E os gatinhos, ai os gatinhos?! Os versos
do outro que eram muito bons, mas agora são uma merda, porque ganhou uns
cobres. A seguir os sapatinhos da nova coleção ao lado das caminhas distribuídas pela
edilidade. As tiradas filosóficas assinadas por Fernando Pessoa, que é outra
pessoa qualquer. E uma música da nova novela. As músicas das novas novelas. E ó Amor. É o Amor. Um peditório para o
Pedrinho, Tiaguinho e a Rosinha. E vamos lá ajudar, que Deus Nosso Senhor não
dorme e hoje é a Rosinha e amanhã posso ser eu. A paciência e o puto educado a saber
as regras todas e arrotar que nem gente é. Pronto a paciência foi à vida dela e
eu vou à minha. Porque também devo ter uma, não?
FaceBook, adoro-te, mas já não tenho paciência
para te aturar. Vou desamigar-me de ti. A nossa relação é impossível.Não
nascemos um para o outro. Temos de dar um tempo. Por agora. É muito
conveniente, está chover, tenho as janelas para lavar, limpar o pó dos livros,
outras coisinhas …
Ai! Estou
tão aliviada que se me quiseres de volta, enfim, daqui a um dia ou dois, põe um
like no teu coração. Sei lá, às vezes não sei o que me dá. Sobem-me estes
soluços e perco a paciência. Já experimentei gritar, mas o Senhor Silva do 2º
frente, que anda sempre de pijama às riscas, veio perguntar-me, com um
pedacinho de couve portuguesa agarrada à placa, se eu precisava de alguma coisa, conversar, um copinho de
vinho ou assim...
Ou assim! Nunca mais
gritei.
Estou melhor, muito obrigada. Até já.