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Auguste Rodin, O Beijo
Sentada na
cama a mulher olhava o mar.
Sentada na
cama a mulher olhava o mar. Azul. Em ondas que morriam nos seus olhos. A mulher
esperava. O homem que chegaria. Não
tardarei. Deito-me a teu lado. Não tardarei. A mulher esperava. Na pele
pressentia já a sua língua. A boca na boca. Chegaria, em minutos, o homem.
Conhecia-o desde sempre, tratava-o por homem, não sabia o seu nome. Pressentia
a pele dele na sua. A língua. Seria o cheiro o primeiro a chegar. Depois os
dedos. Depois os dedos. Depois os dedos sem nada para rasgar. A pele. Os olhos
na penumbra. A boca. Ah! Sim, a boca. O homem chegou. Encostou-se.
Roçou-se, muito devagar, quando se deitou a seu lado. Lembrou-se do seu cheiro.
Lembrou-se das mãos. Lembrou-se por inteiro. Chegou-se a ele. Pediu-lhe a pele.
Exigiu a língua. Gemiam devagar. A respiração em surdina. Cresciam ao lado um
do outro. Rolava o desejo. Enrolavam-se beijos. A língua. Ah! A língua, ela
lembrava-se. Exigentes. Sôfregos. Mais lentos, depois mais rápidos. As mãos em
nó. A respiração gotejava no grito.
Surdo, o grito. Quase a sair da garganta. Abria-se-lhes, o corpo, a carne. As
pernas num só passo, contorciam-se a passos de língua, a gestos de sexo.
Colados, sentiram chegar como um tremor desencontrado, o arrepio. Nas mãos
abertas e na pele sentiram o corpo a abrir, num soluço, de perna, sexo e
língua.
Ficaram
parados o resto do dia.
O resto da noite.
Quando se
sentaram na cama olharam o mar pela última vez.
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segunda-feira, 10 de março de 2014
Sentada na cama a mulher olhava o mar.
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Lembrei-me de uma rosa rubra: sangue, vida, mas algo me lembrou a dor.
ResponderEliminarGostei. Curto e (quase) explícito. :) Um novo tema a explorar, por que não? Gostei mesmo. Fica o beijo. Assim, só. E um abracinho também.
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