quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Esta noite





Esta noite.

 Conhecem-se de noite. Tocam-se, ainda, não alvorecia. Sabem que o dia virá. Silêncio no tempo a passar entre um rasto  de sono e de sonho. Sem palavras. Um só no outro corpo. As solidões esquecem-se e aquecem. Sem pausas. Com sede. A intimidade a crescer. Por dentro. Na rua ficou o mundo. Miséria, pobreza, infelicidade, doença. As estrelas apagam-se. Quase. Num minuto que passa muito depressa. Não tardarão as vozes, os gritos, o insulto. Um só no outro corpo, enquanto as estrelas brilharem. Ficarão assim com o cheiro, com a pele, com o beijo. O último. Percebem que a sombra entrou e desenhou mais um dia. À hora certa. À hora que o relógio nunca atrasa. Como a água que corre, quando se abre uma torneira. Irreversível. Impiedosa. Pontual. Partir. Ficar. Não. Porque esta noite só a felicidade se pôde adiar.

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