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Foto de Xavier Madeira, Pôr de sol em Vila Real de Santo António (via Zezinha Caldeira)
A mesa do café são muitas mesas e cadeiras. À volta de um
café. Uma água sem gás. Natural. Fresca. Uma água das pedras. Um descafeinado...
Um bafo de calor deixa no ar as conversas. Uma esplanada. As cadeiras a puxar um design sofisticado.
Sentam-se. Pessoas. Amigos de sempre. Estão juntos uma vez por ano. Quando
voltam à terra: todos temos uma terra,
dizia a Irene Lisboa. Alguns não se viam há trinta anos. Perderam-se em bons empregos.
Cresceram em empregos medíocres. Fizeram de empregos muito pequeninos, boas
carreiras. Outros voltaram sem emprego. Sem par. Sem família. São muitos e dão
conta do que a infância lhes deixou. Têm histórias do tamanho das vidas que viveram.
Contam bocados de felicidade. Esquecem o inverno frio e já sabem de cor as
tristezas que lhes turvaram os caminhos. São histórias banais. Histórias que se
leem nos jornais. Que se percebem no eco das palavras sobre o melhor lugar ao
sol, o melhor livro, as piadas dos filhos, o sucesso, as apreensões, o mais
desgraçado dos políticos. Nem sempre estão de acordo. Mas riem em coro.
Soltam-se. Gostam de estar juntos. Alguns, ainda, guardam zangas antigas,
despeitos, rancores. Sentam-se, com delicadeza, nos lugares mais distantes da
mesa grande com muitas mesas. Percebem-se na cumplicidade de que é feita a
amizade. A tagarelice é um bem, que gastam com prazer. Há algures, as festas da
moda, as festas brancas e de todas as cores, os lugares de sonho, os festivais, os recantos do país real e dos bolos
de canela acabados de cozer. As cascatas. As viagens. Os cruzeiros. Não estão interessados.
Não foram. Não prestaram atenção. Não comeram. Não se importam. Estão entre os
seus. A família dos filmes de aventuras, das correntes do pelourinho, da praia.
O tempo passou por todos. Deixou um espaço que lhes pertence, por direito e por
amor. Do outro lado, o rio que corre na sua aldeia. Os que voltam todos os
anos, os que vivem neste rio, os que já não voltavam, os que não voltarão e os
que cresceram a seu lado. Antes de se sentarem, cumprimentam-se. Beijam-se nas
faces. Abraçam-se. Dão as mãos. Tocam-se. Olham-se. E mais um abraço. Estão bem.
Têm os olhos a brilhar. Entendem-se. Estão felizes. Às vezes, o suão leva a
tristeza para muito longe. Mas só a tristeza.
É verão. Está muito calor. Ao céu deste mês de encontros não
faltará a lua cheia.
Quase cheia. Ficaremos à sua espera.
(- Um café e uma
garrafa de água. Sim. Fresca e sem gás. Se faz favor. Alguém quer mais alguma
coisa?)
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sábado, 17 de agosto de 2013
Um café e uma garrafa de água, se faz favor.
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Adorei!. Uma amarguinha? Uma taça de vinho tinto? Um vodka fora de horas?
ResponderEliminarora, aqui está um fim de tarde em Vila Real de Santo António, ali na praça. Ou um café depois do jantar. Sem tirar, nem pôr, é mesmo isto. E o suão, amiga, leva o que deixamos que leve:)
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