sexta-feira, 13 de julho de 2018

Sting - If You Love Somebody Set Them Free

Carta de um amor doente.


Escrevo-te uma espécie de carta de amor, das tristes. Das cartas que falam e pedem o amor. Um amor, nosso -  um último reduto a necessidade de te dizer que o meu amor por ti é deixar-te ir pelos teus próprios passos, pelas  tuas  escolhas, até porque são sempre essas que valem e têm razão 
de  existir. Vai, amor meu, que nunca foste, nem amor. Amor meu, se foste de alguém não sei. Que sabemos nós dos outros, ainda que gostemos de ouvir o mesmo concerto de obué?! Eu não aprecio obué, mas eu tenho mau feitio e, por vezes, mau gosto - tu és o meu mellhor exemplo. (Não gosto de obué, mas isso, deve ser, porque sou muito ignorante e, por favor, não me queiras ensinar mais nada,  além do ângulo mais sensual- agora, que  de nada me servirá - das tuas pernas a roçar nas minhas, não me apetece aprender mais nada.) Desculpa a minha sinceridade, nunca leremos os mesmos livros. Com ou sem sofeguidão, o que nos interessava  era aprendemos  a melhor maneira de nos aproximarmos,  quando a noite é quase o dia seguinte e, ainda insistimos em gemer na boca um do outro.
Dizia-te que esta carta de amor é uma carta de amor, um pouco menos ridícula do que as cartas de amor, as habituais...Despeço-me de ti, vou deixar-te, não porque já não aprecie o ângulo do teu abraço no meu peito,  nem  da tua língua atrevida a insistir um cantarolar incompreensivel.Tu cantas bem, a tua língua  desafina um bocadinho, mas isso nunca me incomodou.
Despeço-me de ti, porque estou doente, pertenço ao grupo de pessoas sobre quem todos fazem estatísticas, compram perucas, alvitram menus alternativos e, até oferecem passes em spas extraordinários. Estou doente, tenho uma lesão jeitosa na mama esquerda e se, tudo correr bem,ainda poderei ter as mamas com que sempre sonhei e usarei  chapéu as todas as horas do dia pondo em causa  o protocolo da avó Mariana.
 Vai para os braços de uma Teresa, de uma Sílvia ou de uma Henriqueta, jura - ao contrário da canção do Rui Veloso - que irás ter muitas aventuras, talvez te cases, sejas feliz e compres um apartamento com terraço e janelas de alumínio. 

Não te quero comigo, não aguentarias as agulhas espetadas, a cabeça rapada, o vómito que não cheira a gin, nem a tequilha, a cor pardacenta, as mamas riscadas numa cicatriz brutal.

Dá-me a única prova de amor - que afinal nunca sentimos um pelo outro - e vai para a tua vida tão banal e suburbana , quanto a minha: apenas diferem nos acordes do Satie e no refrão das cantigas da Laura Pausini.


A partir de hoje, estás proibido de (tentar) gostar de mim, ou de me incluires em qualquer playlist ou pensamento mais lúbrico. Por favor, deixa-me desaparecer, para sempre e pensar que terás uma bela família com perú no Natal e prendas no dia do teu aniversário.

Eu estou bem, acredita, quando no colégio imitava a Marisol estava muito longe de imaginar que a vida me daria o amor de uma vida, filhos bonitos, e  casas de janelas rasgadas e luminosas com vista para os rios que correm na minha aldeia. Não sei se tive tudo da vida, espero ter muito mais, mas não fiques à minha espera para jantar.

Recebe o meu beijo.

Recebe-o ao som do Abrunhosa ou da Adriana Calcanhoto, a escolha é tua.



Talvez demore. 

Adeus.