Tens cara de quem gosta de sushi.
Entretanto, adormeci,
fui puxada para dentro de uma nuvem e levava comigo um enorme cansaço e a certeza
dos acordes da canção de Jonh Coltrane, Time After Time, que não te dirá nada,
se calhar nem conheces – o que não me parece importante, comparado com a
vastidão do prado verde que eu conseguia ver, deitada na nuvem que insistia em
empurrar-me, ou talvez, apenas, me embalasse, neste sono a passar pelas brasas, que me cobria com outro sol, outro chão,
outra vida. Estava bem, ali, naquele bocado de cama, feito de algodão, feito de
ar, feito do pó dourado, (é verdade, que é dourado?) de que serão feitos os
nossos sonhos? Aqui e ali, acomodava-me num buraco mais do meu tamanho…. deixava-me
ir. Não percebo nada de sonhos e o mais
longe que consigo ir é à Pedra Filosofal e à perspetiva de um prémio milionário
do Euro Milhões. São muito raras as vezes em que sonho este sonho de algodão
e nuvens pintado a quimeras. Os sonhos que saem feitos e prontos dos livros da
Anita são-me “estrangeiros” (Albert Camus apreciaria a minha comparação!) e,
como não me pagam as contas, nem fazem de mim um ser mais etéreo, mais perfeito
e mais completo, deixam-me muito indiferente, às vezes inquieto-me, mas durante
pouco tempo, Talvez, por tudo isto, este deixar-me levar entre um acorde do Coltrane e uma nuvem de algodão - ainda
que estar de olhos fechados – me deixasse
a pensar que teria abusado do gin ou o comprimido para dormir estivesse
estragado....
Li os Clássicos Russos, fui uma razoável aluna de Ciências da Natureza,
acredito que Neil Amstrong deu o tal grande passo para a Humanidade e a penicilina
já me curou uma infeção muito, muito feia, daí que a minha relação com o sonho seja
idêntica à de uma amante fodida depois da vitória do glorioso - acreditava no
que havia para acreditar e, no dia seguinte, o Senhor Zé continuaria a assentar
as compras no Dever e no Haver, no caderno preto de capa dura, portanto, a
nuvem que me chamava e o prado verde não me conduziam, ao que eu julgava ser, o
tal do Nirvana de que tanto se fala, efabula e vende como pães quentes, à noite, nas vésperas de feriado. Continuava a
insistir no poder do gin e no verde do prado verde que, convenhamos, tinha uma
bela cor, além disso, restava-me a música e o tal cansaço. Mas sonhava. E
sonhava. E sonhava.
Quando o sol nasceu, eu
já não me lembrava da cor do prado, ou da leveza da nuvem, mas foi a luz do sol
a deitar-se, sem pudor, na minha almofada e os teus dedos a percorrerem o
contorno do meu pescoço que, sem nenhuma compaixão, me disseram: Estavas a sonhar, tiveste um sono muito
agitado. Sabias que falas durante o sono?
Agora, que olho bem para ti, posso confirmar - tens cara de quem gosta de
sushi.
Pois! Pensei eu.
Pois! Pensei eu.
Será esta a matéria de
que são feitas as nossas esperanças?!
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