sábado, 10 de outubro de 2015

Um amor civilizado.






Um amor pouco civilizado

E, depois, levas-me a dançar a noite inteira? Proteges-me do açúcar e da tempestade? Tiras o som da televisão quando o vento for uma canção  a roçar-se nos vidros? Vais comigo ao ciclo de cinema francês? Deixas-me usar botas de verniz acima dos joelhos? Não te zangarás comigo, quando as prateleiras da casa de banho forem uma montra de sombras e rimmel? Os domingos de manhã, que passar a dormir não serão, para ti, uma perda de tempo, uma torneira que não veda bem? Se fumar um cigarro à janela, nas noites de lua cheia, não falarás sobre os 'malefícios' do tabaco? Gostarás de bebericar um gin, nas noites mais longas de inverno? Compreenderás a minha irascibilidade na caixa do supermercado? Não me obrigarás a comer sentada à mesa, muito direitinha e com o guardanapo no colo? Perceberás a minha ‘fome’ de solidão e de silêncio? Gostarás das minhas gargalhadas quando trocares as palavras e te enganares a pronunciar o nome de um poeta? Conseguirás deixar de escrever rsss… nas mensagens privadas e parar de me perguntar se estou bem? Entenderás que as raparigas gostam de sair, em bando, sexta-feira à noite? Não sentirás ciúme, quando a minha camisa mais justa cair nos olhos de algum cavalheiro mal disposto? O meu 1, 53cm com 48 kg não serão pretexto para me obrigares a tomar vitaminas? Entenderás que o sexo gosta de dentes bem lavados? Serás capaz de entender que não gosto da conjugalidade na lista das compras? Ouvirás comigo todos os discos do Sabina? Dançarás comigo o slow mais piroso do Tony Carreira? Ou do Frank Sinatra? Cantar-me-ás ao ouvido? Aguentarás as minhas conversas intermináveis ao telefone? Perdoar-me-ás não gostar de futebol, nem de ensopado de borrego? Andar descalça e com pouca roupa pela casa não te deixará constrangido? Não gostar de arroz doce com canela não fará de mim um animal esquisito? A roupa preta que costumo usar não irá sujar o teu sofá branco do Ikea? Obrigar-me-ás a conhecer os teus amigos de infância? Serás capaz de não me perguntar por que não me dou bem com o casamento, nem acredito em  promessas de amor eterno? Sentirás, como eu, que a Amizade é a forma de amor mais verdadeira? E, se eu me esquecer de te telefonar prometes não elaborar uma Teoria Geral Sobre as Regras das Relações Felizes? Esquecerás Veneza? Guardarás Paris num postal ilustrado?

Bem me parecia….É que eu gosto de ir ao cabeleireiro, pinto o cabelo e as unhas, uso perfume no corpo todo e não troco a leitura de um policial por uma cozinha bem arrumada.

Coisas minhas!

3 comentários:

  1. Grande apontamento. Pois, o amor é inteligência e dá liberdade...
    Obrigada pelo Joaquín Sabina, que aprendi a conhecer.

    ResponderEliminar
  2. Amei!
    Finalmente percebi o porquê de insistir em permanecer com os meus "botões" ... é do malvado arroz doce :-*

    ResponderEliminar
  3. Amei!
    Finalmente percebi o porquê de insistir em permanecer com os meus "botões" ... é do malvado arroz doce :-*

    ResponderEliminar