quinta-feira, 11 de junho de 2015

Parabéns, José!






Parabéns, José.

De como eras bonito e perfeito quando nasceste já tu sabes, já ouviste, vezes sem conta a história do teu nascimento. Sabes o que comi na véspera e de que comia, com os dedos todos, frango de churrasco e  a comida indiana nunca me enjoou.  Estás farto de me ouvir dizer que eras um lindo bebé – tinhas cara de capa da Pais e Filhos e várias vezes me disseram, quando te viam, que eras muito bonito. Perfeitinho. Um sorriso rasgado. Olhos brilhantes. Foi fácil amar-te: eras tranquilo e gostavas muito de passear. Ouvias Satie, embalava-te ao som das Gymnopedie, mas People are Strange também não te deixava indiferente. Olhavas com curiosidade para a chuva e o óculo da máquina de lavar roupa foi, para ti, durante muito tempo, um verdadeiro mistério, a entrada do leitor de cassetes de video serviu de esconderijo a soldadinhos de plástico, batatas fritas e peças de lego. Muito cedo largaste a fralda, não gostavas de ter as mãos sujas, desenhavas golfinhos e as tuas gargalhadas espontâneas eram únicas. Ainda são. Gostas muito de rir e manténs o sentido de humor que fez o teu pai pensar se não serias uma criança precoce, mas tudo isto tu sabes – vês nas fotografias e as tuas avós não se cansam de repetir. A tua infância foi feliz, tranquila, aceitaste sem lágrimas a chegada do teu irmão e entraste na escola sem sobressaltos. Trazias amigos para casa, gostavas de partilhar os teus brinquedos e, mesmo com óculos e o tormento de tapar um olho (partidas da genética: somos ambos estrábicos, mas shiuu!, ninguém sabe) eras capaz de rir, brincar e o mundo à tua volta, além de lugar para novas descobertas e brincadeiras, nunca foi para ti uma ameaça. Olho para ti e percebo que o tempo gosta de ti. Sempre gostou. Nasceu-te uma ou outra borbulha, já tens barba, gostas de andar bem vestido e, de repente, vejo-te a olhar para as raparigas, olha-as com admiração, curiosidade e, não raras vezes, reparo que te olhas com vaidade ao espelho, perfumas-te com cuidado, apuras (acho que até deves ensaiar) os teus gestos e tens um muito composto grupo de admiradoras, não falo do respeito e admiração que os teus colegas têm por ti, porque não gostaria que te tornasses petulante. E tu também não. Estiveste e estás a meu lado. Respeitamo-nos, sabemos o lugar que cada um ocupa no coração um do outro e, não sei, se por magia, ou entendimento, somos cúmplices. Rimos juntos dos disparates que cada um de nós faz, dançamos, às vezes, as mesmas músicas, lemos um ao outro os textos que nos comovem  e troçamos das selfies, das “pitas” no FB,  das falinhas mansas, discutimos política e cultivamos alguns ódios de estimação. Não, não somos os melhores amigos um do outro: tu és meu filho e eu sou tua mãe. Discutimos, com veemência, as nossas ideias políticas, não gosto da tua arrogância e, quando insistes em dizer que tens razão e a defendes sem argumentos, zangamo-nos, tenho de te levantar a voz e colocar-te no “teu” lugar. Tu não gostas, eu sei. Nesse momento, eu digo: “temos pena” e tu trepas de fúria pela parede que estiver mais perto, sabes que viro as costas e penso: a opinião de cada um é apenas uma opinião – vale o que vale. Tu lutas, insistes, persistes, vais em frente.

 Vai, em frente, meu filho, continua o homem de bem que já se desenha no teu carácter. Luta, assim, cheio de força e convicções pelo teu lugar ao sol e continua com esse coração generoso de gargalhada solta e sem preconceitos.

Hoje fazes dezoito anos, estás um homem. És um homem, já não acreditas em máquinas que fazem trabalhos de casa, a vida está intacta à tua espera, tens o teu caminho a sair-te debaixo dos pés. Não sei como, mas percebeste, muito cedo, que a tua vida é obra tua - resultado das tuas escolhas. Não cedas, meu filho, vai, segue o teu caminho… nunca me pertenceste (os filhos não nos pertencem, são-nos emprestados para que tomemos conta deles, durante algum tempo, como alguém disse, não é verdade?). A tua medida do tempo, ainda, é para mim um mistério e a tua serenidade, nem sempre me convence. Olha, José, isso não me incomoda (muito), porque o meu amor por ti não tem mistério nenhum e as gargalhadas que damos juntos continuam a ser a melhor maneira de te dizer que metade do meu coração te pertence. Vai, vai sem medo. Aproveita os teus dezoito anos, sê feliz e a melhor pessoa que conseguires.

Parabéns, José.

 

(Dou por mim a pensar que, se calhar tu não adolesceste o suficiente…. Mas depois  lembro-me das nossas brigas para desligares o computador e as tuas respostas com a voz a ‘crescer’ para mim e fico mais tranquila.
Coisas de Mãe)

 


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