quinta-feira, 2 de junho de 2016

PODE O AMOR SER TÃO CRUEL? II

Pode o Amor ser tão Cruel?  II


Nada começa bem sem água tónica,  ou como a palavra revolução pode ser o exemplo do mais puro dos vernáculos.
 
 O Sting, também, ajudou.

Acabou-se a água tónica, o que é um mau início de noite, aliás, um mau início de qualquer coisa, começamos, portanto, mal, muito mal. E, então?  Qual é a mãe que não tem um  pacote de sumo de laranja – do verdadeiro, sem corantes, nem conservantes – ou um par de boas laranjas do sul, sim, qual é a mãe que não se previne com um bom frigorífico recheado de iogurtes, um congelador com cubos de gelo,(às vezes, só tem ervilhas) e dois dedos de vodka para oferecer à amiga que não gosta de gin? Dizem que não dá ressaca!” (amanhã, digo-vos qualquer coisa, sobre este assunto). Posto que está arrumada a vontade de toldar a realidade , ou como diria o poeta Charles Bukowski: “Here's a bluebird in my heart that/wants to get out/but I'm too tough for him,/I say, stay in there, I'm not going/to let anybody seeyou.”, (estes poetas , como o Bukowskvi e outros são muito citados pelos intelectuais aqui do feicebuque, será  porque bebem  uns copos, ou pertencem aquele grupo  dos que lêem e ouvem Tom Waits há séculos? Eu oiço o Tom Waits e bebo uns copos  há séculos , mas  quem mo apresentou – ao Charles Bukovsky - claro, foi um aluno, pela mesma altura conheci os Ornato Violeta e os Sigur Rós, nada a  ver uns com os outros. Associei, foi só. Era uma professora muito ignorante, e pronto, o que não é de estranhar: não tinha feicebuque e achava que o computador era ‘coisa’ para cientistas, ou assim), adiante, com um copo de vodka orange ( noutros tempos pedíamos com pronúncia estrangeira ), e a Rádio Radar a fazer-me companhia, estou, então,  em condições de vos explicar, porque voltei ao vernáculo. É muito simples. Tenho uma dor. Dói um bocadinho. Só um bocadinho! Tinha planeado para nós um fim de semana romântico, apesar de eu saber, que temos ambos alergia ao que é romântico e à palavra n a m o r a do/a;  tinha posto de parte uns dinheirinhos; comprei  outro trólei –desengane-se quem pensa que eu vou ao Google ver como se escrevem bem as palavras inglesas - ; organizei umas mudanças de datas para não faltar aos meus compromissos de mãe; fiz  as contas à depilação, verifiquei a temperatura, o calor prometia banhos de sol e caipirinhas à beira-mar – o fato de banho é giro com uns buracos dos lados, que só ficam bem a quem pesa 48 kg, ( vá, Sarita, se com a minha idade pesares o mesmo  que eu é porque herdaste os genes  da minha tia Irene, ou o mau feitio do meu  avô materno, veremos,  Sarita, se cuspirás  no prato do jeitoso italiano… Se fosse  o Clooney eu perdoar-te-ia…ainda coloco bem o pronome, portanto, Bukowsky não tenhas medo da concorrência), dizia eu, que tinha tudo muito bem pensado: pesquisas de voo estudadas, vestidos de verão a alternar com as calças mais justas, as camisas brancas com fibra, para não se amarrotarem , separadas das outras , as sabrinas  a combinar com o resto das roupitas, se tivéssemos vontade de sair da palhota e, pelas minhas contas, até as raízes do cabelo se aguentariam dento do provável – tudo tão bem organizado como a prateleira dos medicamentos, ou o material escolar no primeiro dia de Setembro (aposto que, nem tu mamã farias melhor!), como se pode verificar, viveríamos um fim de semana planificado como um período lectivo a que não faltariam  nem os conteúdos, nem as estratégias e respectivos recursos – as metas veríamos depois. Tinha tudo em ordem para te levar, para agarrar nos teus olhos azuis, a pele morena e “os truques que aprendeste no cinema” e roubar-te ao subúrbio. Partiríamos, sós, tu e eu, até poderíamos seguir as placas que dizem outros destinos. Iríamos rumo ao calor, ao mar, ao sexo, aos copos…. Como tu gostas. Pois. Mas, pensei bem, esta mania de pensar não me larga , e deixa os meus sms sem resposta. Esta mania de andar de mão dada na rua, a minha insistência em falar na primeira pessoa, a diferença de idades, as dores constantes nas costas, nas minhas. sim. Esta mania de ter uma doença crónica não te deixariam confortável….eu sei que tu gostas do meu fato de banho e os bicos das minhas mamas não te deixam indiferente. Compreendo! E, se me sentisse mal? Se por um tremendo de um azar tu viesses a gostar um bocadinho de mim? Se uma dor mais forte suspendesse uma das minhas gargalhadas? Se um dia acordasses e reparasses nas rugas do meu pescoço, nas sardas das minhas mãos? Que diriam os teus amigos? Que raio fazes tu com uma gaja mais velha, é jeitosinha, sim, porra, é mais velha do que tu, está doente, não incomoda, é verdade, mas ouve lá meu, é uma prisão, ‘tás ver? Ouve lá, meu, sai dessa, não faltam, por aí, gajas, mais novas, na tua, com um bom par de… meu, ouve lá, isso é uma dor de cabeça, meu, ainda não tens cinquenta, tu não pensas assim , meu!
Continuei a pensar, era fácil: bastaria arrumar tudo direitinho nas gavetas, poderia comprar um computador novo, não chegara a comprar os bilhetes de avião, e o destino, ainda, não estava decidido. Sem dramas, uma “nódoa negra sentimental” que se curaria com uma camada de Hirudoid, uns aquários de gin e um bocadinho mais de timeaftertime.  Mais do mesmo. Tudo certo. “[…]I  say, stay in there, I'm not going[…]”.  Ai,Charles, Charles!
Sábado tens uma festa. Top. Na semana seguinte tens outra, o verão está a chegar.
Meu, segue o teu caminho, olha, vai ao concerto dos Scorpions, ainda há bilhetes. Top.
Eu disse que isto sem água tónica não começaria bem. Como vês, não acaba melhor.
Amanhã, sem falta, acrescento à lista uma garrafa de vodka e água tónica. Talvez compre uma boa tradução de um livro de poesia. Sem água tónica nada começa bem. 
Nada!
Quando um inquérito tolo do feicebuque me diz que a palavra que define a minha vida é Revolução e me pede ”diz alguma coisa sobre isso”, queriam que eu respondesse o quê?
 'Foda-se', claro! A minha vida é uma revolução. Diz-me, por favor, alguma coisa que eu não saiba!
Ouve, com atenção a canção do Sting: é Top, meu!




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