Pode o Amor ser tão Cruel? II
Nada começa bem sem água tónica, ou como a palavra revolução pode ser o exemplo do mais puro dos vernáculos.
Nada começa bem sem água tónica, ou como a palavra revolução pode ser o exemplo do mais puro dos vernáculos.
O Sting, também, ajudou.
Acabou-se a água tónica, o que é um
mau início de noite, aliás, um mau início de qualquer coisa, começamos, portanto,
mal, muito mal. E, então? Qual é a mãe
que não tem um pacote de sumo de laranja
– do verdadeiro, sem corantes, nem conservantes – ou um par de boas laranjas do
sul, sim, qual é a mãe que não se previne com um bom frigorífico recheado de
iogurtes, um congelador com cubos de gelo,(às vezes, só tem ervilhas) e dois dedos de vodka para oferecer
à amiga que não gosta de gin? Dizem que não dá ressaca!” (amanhã, digo-vos
qualquer coisa, sobre este assunto). Posto que está arrumada a vontade de
toldar a realidade , ou como diria o poeta Charles Bukowski: “Here's a bluebird in my heart that/wants to get out/but I'm too
tough for him,/I say, stay in there, I'm not going/to let anybody seeyou.”,
(estes poetas , como o Bukowskvi e outros são muito citados pelos intelectuais
aqui do feicebuque, será porque bebem uns copos, ou pertencem aquele grupo dos que lêem e ouvem Tom Waits há séculos? Eu oiço o Tom Waits e bebo uns copos há séculos , mas quem mo apresentou – ao Charles Bukovsky - claro,
foi um aluno, pela mesma altura conheci os Ornato Violeta e os Sigur Rós, nada
a ver uns com os outros. Associei, foi
só. Era uma professora muito ignorante, e pronto, o que não é de
estranhar: não tinha feicebuque e achava que o computador era ‘coisa’ para
cientistas, ou assim), adiante, com um copo de vodka orange ( noutros tempos pedíamos
com pronúncia estrangeira ), e a Rádio Radar a fazer-me companhia, estou,
então, em condições de vos explicar,
porque voltei ao vernáculo. É muito simples. Tenho uma dor. Dói um bocadinho. Só um
bocadinho! Tinha planeado para nós um fim de semana romântico, apesar de eu
saber, que temos ambos alergia ao que é romântico e à palavra n a m o r a do/a;
tinha posto de parte uns dinheirinhos;
comprei outro trólei –desengane-se quem
pensa que eu vou ao Google ver como se escrevem bem as palavras inglesas - ; organizei
umas mudanças de datas para não faltar aos meus compromissos de mãe; fiz as contas à depilação, verifiquei a
temperatura, o calor prometia banhos de sol e caipirinhas à beira-mar – o fato
de banho é giro com uns buracos dos lados, que só ficam bem a quem pesa 48 kg, (
vá, Sarita, se com a minha idade pesares o mesmo que eu é porque herdaste os genes da minha tia Irene, ou o mau feitio do meu avô materno, veremos, Sarita, se cuspirás no prato do jeitoso italiano… Se fosse o Clooney eu perdoar-te-ia…ainda coloco bem o
pronome, portanto, Bukowsky não tenhas medo da concorrência), dizia eu, que
tinha tudo muito bem pensado: pesquisas de voo estudadas, vestidos de verão a
alternar com as calças mais justas, as camisas brancas com fibra, para não se
amarrotarem , separadas das outras , as sabrinas a combinar com o resto das roupitas, se
tivéssemos vontade de sair da palhota e, pelas minhas contas, até as raízes do
cabelo se aguentariam dento do provável – tudo tão bem organizado como a
prateleira dos medicamentos, ou o material escolar no primeiro dia de Setembro
(aposto que, nem tu mamã farias melhor!), como se pode verificar, viveríamos um
fim de semana planificado como um período lectivo a que não faltariam nem os conteúdos, nem as estratégias e respectivos recursos – as metas veríamos depois. Tinha tudo em ordem para te levar, para agarrar
nos teus olhos azuis, a pele morena e “os truques que aprendeste no cinema” e
roubar-te ao subúrbio. Partiríamos, sós, tu e eu, até poderíamos seguir as
placas que dizem outros destinos. Iríamos rumo ao calor, ao mar, ao sexo, aos
copos…. Como tu gostas. Pois. Mas, pensei bem, esta mania de pensar não me
larga , e deixa os meus sms sem resposta. Esta mania de andar de mão dada na
rua, a minha insistência em falar na primeira pessoa, a diferença de idades, as
dores constantes nas costas, nas minhas. sim. Esta mania de ter uma doença crónica
não te deixariam confortável….eu sei que tu gostas do meu fato de banho e os bicos
das minhas mamas não te deixam indiferente. Compreendo! E, se me sentisse mal? Se por um tremendo de um azar tu viesses a gostar um bocadinho de mim? Se uma
dor mais forte suspendesse uma das minhas gargalhadas? Se um dia acordasses e
reparasses nas rugas do meu pescoço, nas sardas das minhas mãos? Que diriam os teus
amigos? Que raio fazes tu com uma gaja
mais velha, é jeitosinha, sim, porra, é mais velha do que tu, está doente, não
incomoda, é verdade, mas ouve lá meu, é uma prisão, ‘tás ver? Ouve lá, meu, sai
dessa, não faltam, por aí, gajas, mais novas, na tua, com um bom par de… meu,
ouve lá, isso é uma dor de cabeça, meu, ainda não tens cinquenta, tu não pensas
assim , meu!
Continuei a pensar, era fácil: bastaria arrumar tudo direitinho
nas gavetas, poderia comprar um computador novo, não chegara a comprar os
bilhetes de avião, e o destino, ainda, não estava decidido. Sem dramas, uma “nódoa
negra sentimental” que se curaria com uma camada de Hirudoid, uns aquários de
gin e um bocadinho mais de timeaftertime. Mais do mesmo. Tudo certo. “[…]I say, stay in there, I'm not going[…]”. Ai,Charles, Charles!
Sábado tens uma festa. Top. Na semana seguinte tens outra, o
verão está a chegar.
Meu, segue o teu caminho,
olha, vai ao concerto dos Scorpions, ainda há bilhetes. Top.
Eu disse que isto sem água tónica não começaria bem. Como vês, não acaba melhor.
Amanhã, sem falta, acrescento à lista uma garrafa de vodka e água tónica. Talvez compre uma boa tradução de um livro de poesia. Sem água tónica nada começa bem.
Nada!
Amanhã, sem falta, acrescento à lista uma garrafa de vodka e água tónica. Talvez compre uma boa tradução de um livro de poesia. Sem água tónica nada começa bem.
Nada!
Quando um inquérito tolo do feicebuque me diz que a palavra que
define a minha vida é Revolução e me pede ”diz alguma coisa sobre isso”,
queriam que eu respondesse o quê?
'Foda-se', claro! A minha
vida é uma revolução. Diz-me, por favor, alguma coisa que eu não saiba!
Ouve, com atenção a canção do Sting: é Top, meu!
😘 És especial Linda, gostava ter uns neurónios e um pouco deste teu dote
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