Os outros.
Nunca
pensava nas pessoas como se de obstáculos ou barreiras se tratassem. Eram
pessoas como ela. Ela e os outros. É assim com toda a gente. Com todas as
pessoas. Às vezes, percebia que a olhavam com desconfiança, pensava que deveria
ter estampado no rosto o estúpido sorriso de quem está, apenas, vivo. Se calhar pensam que ganhei o euromilhões,
que mudei de emprego, que enlouqueci e continuavam pelo mesmo caminho,
ela e o seu sorriso estúpido. Em dias de mágoa e de cansaço evitava olhar. Os outros.
As pessoas eram-lhe indiferentes. Não percebia se lhe sorriam ou troçavam dos
seus sapatos. Eram pessoas. Eram outros. Ela era ela. Uma outra pessoa.
Uma pessoa como as outras pessoas. Quando ficava em casa, num dia como o de hoje –soalheiro
e luminoso – as pessoas não a incomodavam,
estavam na rua, longe, dentro das suas
vidas. No entanto, não conseguia deixar de pensar que o dia de
hoje tinha sido um bom dia, passei um bom
dia, um dia tranquilo, preguiçoso, luminoso. Sozinha, sem ruído. Sem movimento.
Sem os outros. Sem pessoas. Li que amanhã o dia também será de sol e calor. Veremos.
Quem será o dia de amanhã?
Quem será o dia de amanhã?
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