quinta-feira, 24 de julho de 2014

Salão de beleza.




Lavar, secar e depilação completa com cera fria.

Sentada no cadeirão confortável, encosta a cabeça e fecha os olhos.
Vem muito depressa, mal se percebe, torna-se impulso, arrepia e rasgão mais fundo, a aumentar: deitar fora, tudo, de imediato. O coração pode parar a qualquer momento. Percebe as lágrimas a ameaçar turvar o chão, as cadeiras, o espelho, enroladas num nó, a precisar de um papel, de uma caneta - o grito a querer sair. A vontade de chegar a casa. As palavras a procurar uma sombra mais fresca. Sem medo. Ouve o ar irrespirável, pesado e a alegria desfeita. A nódoa negra. A memória de um corpo a pertencer a outro. Um buraco enorme a mudar a razão de lugar. Chorar, mais nada. Talvez escrever.

Venha comigo, vista esta bata, se faz favor. Vem só lavar ou cortamos as pontas? Já fez a estética, não é verdade?

Quero esquecer e gritar. Pode ser amanhã, depois de amanhã? Marcar para outro dia? Pode ser nunca, outra vez?

1 comentário:

  1. Compreendo! Vou uma vez por mês, com a condição de não demorar mais que meia hora ( tudo combinado por telemóvel: espero fora e, quando chega a minha vez, ligam-me. Não mudo de cabeleireira por nada do mundo). Cada vez concordo mais com uma cunhada minha que dizia que a beleza de uma mulher devia sempre se avaliada de manhã e antes do cabeleireiro, para não sermos induzidos em erro. Tortura que, a partir de uma certa idade, não passa de um pró-forma ...

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