domingo, 15 de dezembro de 2013

In a relationship com banda sonora ou as andanças do facebuque.





In a relationship com banda sonora ou as andanças do feicebuque

Isto estava uma tristeza de fazer chorar as pedrinhas da calçada, umas páginas do feicebuque que eram uma lástima: nem uma polémica, nem uma discussão ou guerreia, ninguém a dizer mal de nenhum escritor português, nenhuma crítica aos jogadores de futebol, nenhum treinador enxovalhado, nenhum insulto, nenhuma descoberta que mudasse o rumo da história, nenhuma fotografia dos jantares de natal “lá do escritório”, nenhumas raparigas abraçadas a dizer “love you Carolina”, nenhum, pai natal a fazer de diretor de empresa, nenhuma mesinha com garrafinhas de Pepsi, digo Coca-Cola, nenhum professor de filosofia a bater na mulher, nenhuma praia paradisíaca de trikini, nenhuma mesa de natal cheia de perus recheados e nem um coelhinho vestido de político sério. Nada. Uma pasmaceira. Frases de poetas para cima, frases de gurus para baixo, sonhos salteados em canela e açúcar, muitas frases de filmes carregados de ensinamentos inéditos, receitas e anedotas sobre a crise, a prima da crise, a tia da crise - um feicebuque que não se podia, não se aguentava tanta ‘mesmice’ decorada numa página ou outra com uma travessa de arroz de pato, uma açordazinha de bacalhau, umas ondinhas de  ovos moles. E um dia de sol lá fora! Tanta coisa que deveria estar a acontecer, (se calhar, estavam todos a ler O Expresso!). Felicidade. Alegria, num céu azul, só possível nestes dias de dezembro e frio. E o feicebuque com os mesmos perfis de sempre.“ Isto está mesmo a pedir um casamento, umas bodas de ouro, um namoro escaldante, uma cena à Sol de Inverno”. E, pronto, escrevi  no meu mural: eu-fulana-de-tal in a relationship. Bem! Eu nem queria acreditar - passados alguns minutos comecei a receber likes, mensagens com felicitações,  smiles,  corações a piscar, estrelas com lacinhos, polegares azuis e enormes em mensagens privadas, polegares de “amigo” que eu não sabia tão preocupados com a  minha vida afetiva,  sms a perguntar quem era o felizardo. ”Como é que te acontece uma coisa destas e não me dizes nada? Ai! Mulher que contente que fiquei! Já estava na hora das coisas boas começarem a acontecer!”. “ O teu pai natal chegou mais cedo”. Confortada com tantas manifestações de calor e fraternidade, dei comigo a pensar que quem tem amigos no feicebuque tem tudo! Todos os meus amigos querem que eu me “case” e todos precisamos de ver, ‘claramente visto’ e escancarada a vida dos outros. Surpreendente, no entanto, a facilidade com que tiramos conclusões, ajuizamos e lemos o que Não está escrito nas páginas do feicebuque. Agradeço com o coração todo o vosso carinho e interesse pela minha vida amorosa, contudo, de momento, a minha única e feliz relação amorosa é com a Minha vida. Continuem a likar e a acompanhar os episódios seguintes, eu e a Vida agradecemos. Por enquanto é tudo, desculpem-me, mas “aqui não há coisa nenhuma”.

Ainda estamos em muito boa idade, não é verdade?

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