Já escolheu?
Temos também mini-pratos, preços mais em conta.
Trago já a lista dos combinados, minha senhora.
Trago já a lista dos combinados, minha senhora.
Teria preferido ficar deitada na areia, a teu
lado, a ver o ir e vir das ondas, as tuas proezas de bruços, ou a tua
capacidade para me convenceres que o horizonte é a tua pessoa ou as
vossas pessoas. Teria preferido que não me tivesses perguntado pela posição das
almofadas, ou pelo tempero da sopa. Teria preferido que nem sequer te tivesses
atravessado no meu caminho e teria preferido que as nossas solidões alguma vez
se tivessem, de novo, encontrado. Teria, se me tivessem dado a hipótese de
escolher, preferido uma vida mais arrumadinha, organizada em gavetinhas, com
grandes tratados com notas de rodapé e até teria começado a roer as unhas,
teria deitado fora os meus vernizes atitude chique e vermelho tango, tudo isso
eu teria trocado por um dia mais tranquilo, mais simplório e preenchido entre
enxotar uns gatos vadios e o tempero picante do caldo de peixe, ou ainda, por
um jantar à volta de um chili regado com Fernando Pessoa e a metafísica de uma
discussão sobre grandes Arquitetos do Universo, a Existência de Deus e a
necessidade de se escrever O tal
verdadeiro e único livro. A Função da Arte na Sociedade e as Cem Soluções para sair da Crise. Teria deitado fora o meu orgulho, rapado para
fora do prato algumas migalhas de arrogância e, até, teria começado a ir ao
futebol se alguém mo tivesse pedido. Teria trocado os dias de sol com frio, de
que tanto gosto, por uma semana inteirinha de chuvas torrenciais, ter-te-ia passado
as camisas a ferro e vincado as calças cinzentas do fato completo, acordaria
todos os dias às seis da manhã e ficaria uns quantos meses sem comprar botas,
tanto que eu teria feito, se me tivessem
permitido escolher – Skip ou
Persil; pepperoni ou extra cheese; papel de folha dupla, ou algodão em rama. Teriam
sido escolhas, decisões conscientes, uma
vida à la carte como um catálogo de tintas Robbialac, pois teria. Pois
teria. Neste momento eu diria uma visão mais romântica do mundo e, com um
bocadinho de esforço, o Pai Natal voltaria a instalar-se com maiúscula, ali,
naquele canto da sala que tem a tomada para ligar as luzes, mas não… As
prateleiras estavam todas desarrumadas, os saldos começaram mais cedo e, Quem
lá está, se lá estiver Alguém, deu-me a roupa conforme o frio, eu tiritava, nem
dei conta, e o copo que para mim está sempre meio-cheio, entornou-se. Agora,
desejo que o ano acabe, saio de casa sempre com a cama feita e faço os
possíveis por ter saldo positivo até ao fim do mês. Apenas alguns exemplos.
Agora, sem ter escolhido, nem a marca dos caldos Knorr que já não uso, nem a
melhor forma de organizar o que ainda está para vir, olho para o mundo e penso
que as nossas escolhas são simples conjugações de ADN e a cor das camisolas, a
condizer com a saia, será o mais perto de fazermos o que nos apetece. Carpe
diem? Não sei, porque se o dia não estiver de feição…. nem a Lídia se sentará
connosco à beira-rio.
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