segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Já escolheu? Temos também mini-pratos mais em conta.Trago já a lista dos combinados, minha senhora.





Já escolheu? Temos também mini-pratos, preços mais em conta.
Trago já a lista dos combinados, minha senhora.

Teria preferido ficar deitada na areia, a teu lado, a ver o ir e vir das ondas, as tuas proezas de bruços, ou a tua capacidade para me convenceres que o horizonte é  a tua pessoa ou as vossas pessoas. Teria preferido que não me tivesses perguntado pela posição das almofadas, ou pelo tempero da sopa. Teria preferido que nem sequer te tivesses atravessado no meu caminho e teria preferido que as nossas solidões alguma vez se tivessem, de novo, encontrado. Teria, se me tivessem dado a hipótese de escolher, preferido uma vida mais arrumadinha, organizada em gavetinhas, com grandes tratados com notas de rodapé e até teria começado a roer as unhas, teria deitado fora os meus vernizes atitude chique e vermelho tango, tudo isso eu teria trocado por um dia mais tranquilo, mais simplório e preenchido entre enxotar uns gatos vadios e o tempero picante do caldo de peixe, ou ainda, por um jantar à volta de um chili regado com Fernando Pessoa e a metafísica de uma discussão sobre grandes Arquitetos do Universo, a Existência de Deus e a necessidade de se escrever O tal verdadeiro e único livro. A Função da Arte na Sociedade e as Cem Soluções para sair da Crise. Teria deitado fora o meu orgulho, rapado para fora do prato algumas migalhas de arrogância e, até, teria começado a ir ao futebol se alguém mo tivesse pedido. Teria trocado os dias de sol com frio, de que tanto gosto, por uma semana inteirinha de chuvas torrenciais, ter-te-ia passado as camisas a ferro e vincado as calças cinzentas do fato completo, acordaria todos os dias às seis da manhã e ficaria uns quantos meses sem comprar botas, tanto que eu teria feito, se me tivessem  permitido escolher – Skip ou Persil; pepperoni ou extra cheese; papel de folha dupla, ou algodão em rama. Teriam sido escolhas, decisões conscientes, uma vida à la carte como um catálogo de tintas Robbialac, pois teria. Pois teria. Neste momento eu diria uma visão mais romântica do mundo e, com um bocadinho de esforço, o Pai Natal voltaria a instalar-se com maiúscula, ali, naquele canto da sala que tem a tomada para ligar as luzes, mas não… As prateleiras estavam todas desarrumadas, os saldos começaram mais cedo e, Quem lá está, se lá estiver Alguém, deu-me  a roupa conforme o frio, eu tiritava, nem dei conta, e o copo que para mim está sempre meio-cheio, entornou-se. Agora, desejo que o ano acabe, saio de casa sempre com a cama feita e faço os possíveis por ter saldo positivo até ao fim do mês. Apenas alguns exemplos. Agora, sem ter escolhido, nem a marca dos caldos Knorr que já não uso, nem a melhor forma de organizar o que ainda está para vir, olho para o mundo e penso que as nossas escolhas são simples conjugações de ADN e a cor das camisolas, a condizer com a saia, será o mais perto de fazermos o que nos apetece. Carpe diem? Não sei, porque se o dia não estiver de feição…. nem a Lídia se sentará connosco à beira-rio.

 

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