Quanto ao
insípido incolor, respondo-te assim: não há fotografia, porque não quis tirar
fotografia com a artista, nunca gostei de estive neste concerto e tirei um retrato para
mostrar aos meus netos, por isso, não tenho uma fotografia para alegrar a alegria de ouvir e cantar We Used Call It Love. A noite estava muito fria e a boina era
preta, basca, comprada, talvez, numa dessas Parfois que por aí crescem, o
vestido, o meu, era muito quentinho de lã preta, o casaco, inócuo, de pele
sintética, comprado num saldo, há uns quantos invernos. O vestido da cantora
também era preto, mas tinha vidrinhos cor-de-rosa. Vestido de cantora, porque
assim tinha de ser. As outras pessoas deveriam estar vestidas como pessoas que
vão a concertos, numa noite fria de dezembro. Não registei nada de muito
elegante, nem muito colorido. Uma ou outra saia encarnada, écharpes às flores,
lábios rouge-passion e pouco mais. Mas acrescento-te um pied de poule, garrido,
sentado a meu lado. Suspirou por um descafeinado falta imperdoável num sala de espetáculos desta dimensão, eu sem o
descafeinado passo muito mal, e os rapazes foram muito antipáticos, mesmo
boçais, e numa sala destas, amanhã vou mandar um mail, eu conheço a cantora
e a mãe. Já estou aposentada e venho a
alguns concertos. Nasci no estrangeiro e não estou habituada a portugueses mal-educados,
agora à música venho mesmo, porque me oferecem os bilhetes, que esta rapariguinha
também é minha conhecida. Olhe, venho já, vou ali cumprimentar um outro músico
que conheço. Quando olhei, vi o pied de poule em bicos de pés, o tal músico
conhecido pareceu-me surpreendido. Já não
se lembra de mim. Quando quis beber o descafeinado que não tinham, veja lá,
numa sala destas, encontrei uma amiga cantora que, também, não me reconheceu,
sabe?! Já é a terceira vez esta noite. Não se lembram de mim. Pois claro, eu era
morena e, agora, por causa dos brancos, estou loura, mas conheço-os a todos. O
pied de poule de metro e meio, cabelos louros aos caracóis, óculos na ponta do
nariz e um insistente colorido Maderas do Oriente, que me lembro de ver no psiché
da minha tia Elisa, insistiu em cantar durante todo o concerto. Um bocado de
cinzento e irritante pied de poule! Fiquei a pensar no tal mail. Na verdade, a
falha do descafeinado caiu-me muito mal. Assim, de momento, não me lembro de
mais nenhuma cor. Não sei, minha querida, se era a esta cor insípida de que
falavas. Além das cores de Lovely Difficult, não sei. Não ouvi mais nada.
Ah! Ainda, a propósito de cores, tenho na ponta dos dedos uma atitude chique, umas unhas pardas,
brilhantes, entre o castanho taupe e o cinzento-escuro, muito moderno que fica bem com a roupa mais casual, ou mais de festa,
se está vestida de preto, a cor atitude chique fica mais brilhante, já com as cores
mais claras faz contraste. É uma questão de atitude, verdade? Quem assim
tão bem me aconselha é a minha Rosalva de Minas Gerais, que trabalha com unhas
e atitude há mais de vinte anos.
Era este o insípido incolor?
Então ?! "Insípido incolor" é o verniz que eu uso (pois, eu sei, nem se vê).
ResponderEliminarO pedido de fotografia era por bisbilhotice cromática. Tens toda a razão: castanho-beije-cinzento é elegante, sim senhora. "Atitude chique" traduz.
Eu sei que és uma aristocrata, querida amiga. A verdadeira aristocracia tem muito de iconoclasta.
Tão exagerada!
EliminarEstá combinado, no natal ofereço-te um verniz atitude chique.
Sacrilégio dos sacrilégios - lidas e com responsabilidades na formação das mentalidades a discutir as cores do verniz das unhas!
Beijnhos, querida amiga.
Agora comentário ao texto: bom, como muitos que nos ofereces. Prendo-me à ultima frase, estranhamente bela; quase neo-realista, mas de outra têmpera. Temos mesmo de ir as duas a Vila Franca de Xira.
EliminarPois, iremos a Vila Franca de Xira.
EliminarVou enviar-te, ou dar-te em pessoa, mas que não são de pessoa, uns poemas lindos que ando a "estudar". Até breve.