quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Adoro-te Facebook





Adoro-te Facebook.

Às vezes, não tenho paciência, pronto. Esgota-se, acaba-se e desfaz-se no ar, deixa-me e vai por aí! Desculpem, mas já não se aguenta tantos selfies nas festas, na discoteca, tanta promoção de tanta escrita e má escrita, tantos sorrisos de concupiscência (uf! tive de ir ao dicionário),tantos minha querida és a melhor, em quê? - nunca se sabe. E ,vezes sem conta, vai tomar banho, já recebeste o teste? Não recebi um sms e estou a roer as unhas, depois do dinheirão que gastei a arranjá-las. Vai fazer os trabalhos de casa e a paciência a desaparecer nas linhas da folha de vencimento a acenar à puta da crise. As caras de felicidade do namorado arranjado ontem. A prenda que os pais ofereceram porque o curso de direito é muito difícil. Tanta confusão entre o Miró e o próprio cu. As cartas dos pais para os filhos e dos filhos para os netos e as outras cartas a implorar por um futuro cheio de esperança para os filhos que estão nos colégios com futuro, e  têm padrinhos naqueles sítios que toda a gente sabe. Tanta lágrima a escorrer pela testa, quando morre alguém conhecido, mas que ninguém conhece.Tanta invejinha adoçada pelas fatias douradas feitas na BimBy. E as unhas de gel a fazer conjunto com as flores, os anjinhos e as mãos postas em Deus. E as frases, as liçõezinhas, as certezinhas. Os conselhos tão bonzinhos. Ai! Às vezes, a paciência vai pelo ralo abaixo, entope os canos (por que é que ninguém mostra os canos entupidos, as banheiras com as tintas a saltar e o soalho riscado e a apodrecer, porque a casa de banho da vizinha de cima está cheia de repasses?) e mistura-se com o cotão que já lá estava, a paciência, claro. A seguir lá vem mais um lacinho, um amor ilóviu e fica tudo a olhar para ondas gigantes e a ocidental praia lusitana a encolher. E os gatinhos, ai os gatinhos?! Os versos do outro que eram muito bons, mas agora são uma merda, porque ganhou uns cobres. A seguir os sapatinhos da nova coleção ao lado das caminhas distribuídas pela edilidade. As tiradas filosóficas assinadas por Fernando Pessoa, que é outra pessoa qualquer. E uma música da nova novela. As músicas das novas novelas. E ó Amor. É o Amor. Um peditório para o Pedrinho, Tiaguinho e a Rosinha. E vamos lá ajudar, que Deus Nosso Senhor não dorme e hoje é a Rosinha e amanhã posso ser eu. A paciência e o puto educado a saber as regras todas e arrotar que nem gente é. Pronto a paciência foi à vida dela e eu vou à minha. Porque também devo ter uma, não?

 FaceBook, adoro-te, mas já não tenho paciência para te aturar. Vou desamigar-me de ti. A nossa relação é impossível.Não nascemos um para o outro. Temos de dar um tempo. Por agora. É muito conveniente, está chover, tenho as janelas para lavar, limpar o pó dos livros, outras coisinhas …

Ai! Estou tão aliviada que se me quiseres de volta, enfim, daqui a um dia ou dois, põe um like no teu coração. Sei lá, às vezes não sei o que me dá. Sobem-me estes soluços e perco a paciência. Já experimentei gritar, mas o Senhor Silva do 2º frente, que anda sempre de pijama às riscas, veio perguntar-me, com um pedacinho de couve portuguesa agarrada à placa, se eu precisava de alguma coisa, conversar, um copinho de vinho ou assim...

Ou assim! Nunca mais gritei.

Estou melhor, muito obrigada. Até já.

 

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