sábado, 17 de setembro de 2016

Pode o Amor ser tão Cruel? V A Décima segunda carta de amor.




Pode o Amor ser tão Cruel? V




Carta de Amor número XII

Minha serenidade, minha.

 Com tranquilidade  e lucidez de  quem se diz tão inquieta, a tua carta falou-me de ti como nunca tinhas falado.
A tua carta falou de ti e de abraços.
Tens razão, estava preparado para te dar outro abraço e, talvez, outro abraço, ainda, a palavra abraço, quero eu dizer!
Não sei de mim, não sei o que quero - talvez o que não quero seja, para mim, mais sincero.
Somos construídos de sangue, de sonhos, de lágrimas e de memórias - o corpo tem memória - disse-te num dos nossos longos papéis, não concordaste: é a tua razão! Não sou assim.
Temos conversado e trocado as nossas vidas. 
Uma noite e outra e outra…
Fico inquieto.
Há dias em que estou sem ânimo.
Há dias em que penso muito em ti.
Há momentos em que não consigo explicar: o que é isto? Esta intensidade, esta emoção, este arrepio sem nome.

Sei muita coisa. Li muitos livros. Conheci muita gente e travei muitas batalhas. Viajei e perdi-me. Vim de outra cidade. Sonhos, desejo, música e mulheres sempre me acompanharam. Insaciável, sou um diletante confesso - um amante de mulheres.
Sei de cor poemas inteiros. Já te li alguns, sussurrei-tos em parágrafos curtos  para que só tu os ouvisses!
 E é isto que eu não entendo - falta-me a pele, o cheiro, o gesto das mãos, o brilho do teu sorriso. Esta distância, assim! 
(Conseguiremos viver nesta sombra?)
Este estar sem tempo são cartas que escrevemos um ao outro. Nada mais.
Tord faz-me companhia e aprendi contigo música, poemas, sentires - como vês eu não sei tudo e o que sei não me serve para nada. E sei o que me irás dizer a seguir!
Chamas-me tua serenidade e eu entendo, fico contente, é bom ouvir dizer-te isso, na tua caligrafia imperfeita a rasgar as linhas. Mas falta-me tua cintura, ou a tua presença. Mulher! Dizes que tens grilhões eu prefiro dizer laços... Vês, tu? Sou esta "coisa indefinida entre nada e coisa nenhuma", num quarto " cheio de janelas " e com um coração que é " o teu e trago dentro de mim".

Se eu quisesse ter ouvido tudo isto, seria só poesia ou desejo. Ou o gosto de ver o mar contigo. Durante horas. Mulher.
E, se nos apetecesse o silêncio!? Ou um beijo?

Continuaremos a escrever, mais logo.
Que mais poderemos fazer, minha serenidade minha?






(Nunca se encontraram e de ambos ficou apenas um amontoado de papéis a amarelecer numa gaveta sem graça e a cheirar a bafio.)




2 comentários:

  1. Obrigada, linda Linda. Não são orvalho, muito menos um punhal, mas a lágrima rolou. Beijo e abracinho apertado.

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  2. Palavras leva-as o vento,das pessoas ficam as memórias,os sentimentos,a voz...
    Obrigada,querida Didi.

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