Pode o Amor ser
tão Cruel? V
Carta de Amor número XII
Minha serenidade, minha.
Com tranquilidade
e lucidez de quem se diz tão inquieta, a tua carta falou-me
de ti como nunca tinhas falado.
A tua carta falou de ti e de abraços.
Tens razão, estava preparado para te dar outro abraço
e, talvez, outro abraço, ainda, a palavra abraço, quero eu dizer!
Não sei de mim, não sei o que quero - talvez o que não
quero seja, para mim, mais sincero.
Somos construídos de sangue, de sonhos, de lágrimas e
de memórias - o corpo tem memória - disse-te num dos nossos longos
papéis, não concordaste: é a tua razão! Não sou assim.
Temos conversado e trocado as nossas vidas.
Uma noite e outra e outra…
Uma noite e outra e outra…
Fico inquieto.
Há dias em que estou sem ânimo.
Há dias em que penso muito em ti.
Há momentos em que
não consigo explicar: o que é isto? Esta intensidade, esta emoção,
este arrepio sem nome.
Sei muita coisa. Li muitos livros. Conheci muita gente
e travei muitas batalhas. Viajei e perdi-me. Vim de outra cidade. Sonhos,
desejo, música e mulheres sempre me acompanharam. Insaciável, sou um diletante
confesso - um amante de mulheres.
Sei de cor poemas inteiros. Já te li alguns,
sussurrei-tos em parágrafos curtos para
que só tu os ouvisses!
E é isto que eu
não entendo - falta-me a pele, o cheiro,
o gesto das mãos, o brilho do teu sorriso. Esta distância, assim!
(Conseguiremos viver nesta sombra?)
(Conseguiremos viver nesta sombra?)
Este estar sem tempo são cartas que escrevemos um ao
outro. Nada mais.
Tord faz-me companhia e aprendi contigo música,
poemas, sentires - como vês eu não sei tudo e o que sei não me serve para nada.
E sei o que me irás dizer a seguir!
Chamas-me tua serenidade e eu entendo, fico contente,
é bom ouvir dizer-te isso, na tua caligrafia imperfeita a rasgar as linhas. Mas
falta-me tua cintura, ou a tua presença. Mulher! Dizes que tens grilhões eu
prefiro dizer laços... Vês, tu? Sou esta "coisa indefinida entre nada e coisa
nenhuma", num quarto " cheio de janelas " e com um coração que é
" o teu e trago dentro de mim".
Se eu quisesse
ter ouvido tudo isto, seria só poesia ou desejo. Ou o gosto de ver o mar contigo.
Durante horas. Mulher.
E, se nos
apetecesse o silêncio!? Ou um beijo?
Continuaremos a
escrever, mais logo.
Que mais poderemos fazer, minha serenidade minha?
Que mais poderemos fazer, minha serenidade minha?
(Nunca se encontraram e de ambos ficou apenas um amontoado de papéis a
amarelecer numa gaveta sem graça e a cheirar a bafio.)
Obrigada, linda Linda. Não são orvalho, muito menos um punhal, mas a lágrima rolou. Beijo e abracinho apertado.
ResponderEliminarPalavras leva-as o vento,das pessoas ficam as memórias,os sentimentos,a voz...
ResponderEliminarObrigada,querida Didi.