quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Insípido incolor






Quanto ao insípido incolor, respondo-te assim: não há fotografia, porque não quis tirar fotografia com a artista, nunca gostei de  estive neste concerto e tirei um retrato para mostrar aos meus netos, por isso, não tenho uma fotografia para  alegrar a alegria de  ouvir e cantar We Used Call It Love. A noite estava muito fria e a boina era preta, basca, comprada, talvez, numa dessas Parfois que por aí crescem, o vestido, o meu, era muito quentinho de lã preta, o casaco, inócuo, de pele sintética, comprado num saldo, há uns quantos invernos. O vestido da cantora também era preto, mas tinha vidrinhos cor-de-rosa. Vestido de cantora, porque assim tinha de ser. As outras pessoas deveriam estar vestidas como pessoas que vão a concertos, numa noite fria de dezembro. Não registei nada de muito elegante, nem muito colorido. Uma ou outra saia encarnada, écharpes às flores, lábios rouge-passion e pouco mais. Mas acrescento-te um pied de poule, garrido, sentado a meu lado. Suspirou por um descafeinado falta imperdoável num sala de espetáculos desta dimensão, eu sem o descafeinado passo muito mal, e os rapazes foram muito antipáticos, mesmo boçais, e numa sala destas, amanhã vou mandar um mail, eu conheço a cantora e a mãe. Já estou aposentada e venho a alguns concertos. Nasci no estrangeiro e não estou habituada a portugueses mal-educados, agora à música venho mesmo, porque me oferecem os bilhetes, que esta rapariguinha também é minha conhecida. Olhe, venho já, vou ali cumprimentar um outro músico que conheço. Quando olhei, vi o pied de poule em bicos de pés, o tal músico conhecido pareceu-me surpreendido. Já não se lembra de mim. Quando quis beber o descafeinado que não tinham, veja lá, numa sala destas, encontrei uma amiga cantora que, também, não me reconheceu, sabe?! Já é a terceira vez esta noite. Não se lembram de mim. Pois claro, eu era morena e, agora, por causa dos brancos, estou loura, mas conheço-os a todos. O pied de poule de metro e meio, cabelos louros aos caracóis, óculos na ponta do nariz e um insistente colorido Maderas do Oriente, que me lembro de ver no psiché da minha tia Elisa, insistiu em cantar durante todo o concerto. Um bocado de cinzento e irritante pied de poule! Fiquei a pensar no tal mail. Na verdade, a falha do descafeinado caiu-me muito mal. Assim, de momento, não me lembro de mais nenhuma cor. Não sei, minha querida, se era a esta cor insípida de que falavas. Além das cores de Lovely Difficult, não sei. Não ouvi mais nada. Ah! Ainda, a propósito de cores, tenho na ponta dos dedos uma atitude chique, umas unhas pardas, brilhantes, entre o castanho taupe e o cinzento-escuro, muito moderno que fica bem com a roupa mais casual, ou mais de festa, se está vestida de preto, a cor atitude chique fica mais brilhante, já com as cores mais claras faz contraste. É uma questão de atitude, verdade? Quem assim tão bem me aconselha é a minha Rosalva de Minas Gerais, que trabalha com unhas e atitude há mais de vinte anos.

Era este o insípido incolor? 

                                                                                                              

4 comentários:

  1. Então ?! "Insípido incolor" é o verniz que eu uso (pois, eu sei, nem se vê).
    O pedido de fotografia era por bisbilhotice cromática. Tens toda a razão: castanho-beije-cinzento é elegante, sim senhora. "Atitude chique" traduz.
    Eu sei que és uma aristocrata, querida amiga. A verdadeira aristocracia tem muito de iconoclasta.

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    1. Tão exagerada!
      Está combinado, no natal ofereço-te um verniz atitude chique.
      Sacrilégio dos sacrilégios - lidas e com responsabilidades na formação das mentalidades a discutir as cores do verniz das unhas!
      Beijnhos, querida amiga.

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    2. Agora comentário ao texto: bom, como muitos que nos ofereces. Prendo-me à ultima frase, estranhamente bela; quase neo-realista, mas de outra têmpera. Temos mesmo de ir as duas a Vila Franca de Xira.

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    3. Pois, iremos a Vila Franca de Xira.
      Vou enviar-te, ou dar-te em pessoa, mas que não são de pessoa, uns poemas lindos que ando a "estudar". Até breve.

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