domingo, 8 de dezembro de 2013

Postal Ilustrado.

Cacela Velha / Fábrica
(Fotografia de Pedro Afonso Pereira, dezembro de 2013)


Postal  ilustrado.

Estava em quarto crescente a lua a subir. Na Ria Formosa. Nunca vimos a lua juntos na Ria Formosa, porque nunca vimos a lua. Juntos. Ontem brilhava na água. Seguiu a meu lado. Estava uma fria noite de dezembro e lembrei-me de outra noite e de outros dias, de outras fases da lua de dezembro e de outros meses, porque o tempo é apenas uma medida e o último dezembro foi apenas o último de um ano que acabou. Como as fases da lua. E, as vidas das pessoas. Estão cheias de sonhos, promessas, perdões e recomeços. Não sei de que cor teriam sido os dias se nos tivéssemos permitido ver a lua. Juntos. Não sei e tu também não, porque no outro lado do mar está muito calor e tu continuas a enxotar os gatos. E, que importância tem tudo isto, agora? Estas linhas são só para te dizer que há muitos dias de dezembro carregados de luz, aqui ao sul. O Guadiana brilhou o dia todo, mas as tardes arrefecem, quando o sol se põe e a lua insiste em aparecer. Acendem-se as estrelas e os sinos que reclamam a chegada do pai natal e na humidade dos vidros das janelas, se quisesse, poderia escrever o teu nome dentro de um coração. Com a ponta dos dedos. Procurarei o telhado da tua casa, o fumo na chaminé, talvez ainda me recorde dos traços gosseiros do teu rosto de moço. Talvez te acene, talvez. No regresso. Quando o sol mudar a cor da água da Ria. Não respondas, por favor. Já não são necessárias  palavras. O tempo é apenas uma medida, não é verdade?

As ruas estão muito coloridas, mas o chão está molhado, se não tivermos cuidado, podemos escorregar.

Um abraço.  


 

1 comentário:

  1. Que se acendam «as estrelas e os sinos que reclamam a chegada do pai natal e na humidade dos vidros das janelas»
    Lindíssimo o teu postal de Natal. Que se inscreva dentro do teu coração uma palavra: Tu.

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