Um bocadinho da Horta da Mena.
(Gato Barbieri e Caliente)
A horta da Mena.
Não sei de que matéria são feitos os sonhos,
além de palavras e tenacidade, não conheço a
receita da longevidade e de cenouras, rabanetes, batatas, tomates e
coentros, não entendo nada que um senhor
de avental branco não possa pesar, acrescente-se que aprecio, sobremaneira, que o leite venha diretamente da vaca para os
iogurtes. A marca Pão de Açúcar e o Cartão Continente são, portanto, o meu
norte nestas questões naturais, responsáveis pelo bom funcionamento da minha
existência. Tenho pela natureza o respeito que se tem por qualquer língua morta
– reconheço o que me ensinou, aprendi a generosidade de um saber milenar,
admiro os segredos por revelar, de um território longínquo que, para mim,
citadina empedernida, será fronteira nunca violada, nem por um desejo “de
perder países”, ou por uma qualquer demanda de Santo Graal. Coisas minhas e do
meu amor à cidade. Admiro, estimo e, em dias de maior tédio, sinto, até uma
ligeira inveja desse gosto de chafurdar na lama e, qual Caeiro, em dia mais
contemplativo, ficar a ver os morangos, os tomates e as abóboras a crescerem.
Confesso que a inveja não é muito duradoura, os morangos prefiro-os em batidos
e a única a abóbora em que acredito é a que se transforma em carruagem luxuosa.
Chega, no entanto, muito viva “[…] a Paz da Natureza sem gente / […] sentar-se
a meu lado” e a minha admiração, por
quem, de uma semente consegue arrancar, depois de dias e dias de labuta um soberbo
prato de sopa de nabiças, ou um arroz de favas que não deixaria indiferente o
nosso amigo Jacinto. E, se por milagre, a semente se transforma em sopa, é
porque numa qualquer, mais rija, folha de couve houve “metafísica
suficiente ”. Mena, o próximo caldo verde que comer em tua casa comê-lo-ei com
a mesma verdade com que aquela pequena, nossa amiga, come chocolates. Prometo.
Um abraço a cheirar a hortelã.
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É pá, adoro esta sinceridade. É isso que me faz ler os textos da L. David e vir aqui diariamente.
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