domingo, 15 de junho de 2014

Em Lisboa há uma rua com o chão pintado de cor de rosa

 
 
 
Em Lisboa, há uma rua que tem o chão pintado de cor- de -rosa.
Mais uma noite a observar e a ouvir o que está perto, muito perto, pode perceber-se que se a música é o pretexto mais forte o que move os copos a desenharem círculos, não é solidão, porque seria falso pensar que sai à noite quem está só. Encontrar um par? Não significa estar só, nem solidão. Desfazer o vazio num copo de gin, repetir pela enésima vez o mesmo refrão procurar aquele estado de embriaguez que, sempre nos leva para ” Um pouco mais de sol  eu era brasa./Um pouco mais de azul eu era além”.
A noite estava muito quente. Levo-te a casa, hoje confirmei como danças bem, anda de olho em ti já há algum tempo.(E depois casas comigo e ajudas-me a pagar as contas? ).Entretanto, talvez, uma a solidão se organizasse. Mostrar-lhe-ia o nascer do sol da janela, explicaria que as grandes tragédias estão dentro de nós e uma aspirina acalmaria as dores de cabeça. Mas não. Não é assim, nunca foi. Fica  um gosto e a partilha de se dançar e cantar, vezes sem conta, a mesma canção. Entreter uma noite que as séries da Fox não preenchem e perceber que já nada nos surpreende. "Não há nada de novo aqui/debaixo do sol." As surpresa do encontro, nem tão pouco a veleidade de entender que, ao nosso lado, há quem pense o mesmo.  Há quem tenha pensamentos mais prosaicos. A noite e o copo na mão, contenha água ou gin, é, apenas, isso, um copo na mão, com água ou gin. Nada mais do que isso. Dançar o mesmo refrão e, se o amanhecer for bonito e doce, pintado de um azul de aguarelas desfeitas, calmo e lilás, apenas, lamento que tenha sido das poucas pessoas a vê-lo. Com estes olhos. Apeteceu-me ficar junto ao Tejo. Mas amanhecia e o nosso tempo já é outro e não cabe na moldura. Talvez estivesse à tua espera. Apesar de saber que a cor do céu nunca te deteve. Apenas a  urgência de chegar ao copo seguinte. Naturezas. É como  gostar de ovos com presunto ao pequeno-almoço. Eu não gosto, no entanto, há quem  aprecie. O taxista era simpático, falou sempre, este é o meu segundo emprego, tenho duas filhas universitárias e a mulher está desempregada. Indiferente aos assédios, ao refrão da moda e aos trinta anos da morte de António Variações. E, a noite é isto. Se eu ainda comesse doces, assaltaria, com gula, a padaria da praça do Chile. Nada mudaria e a noite ficaria igual ao poema de Sá Carneiro. Com os mesmos versos. Então porque é que vais? Porque insistes em ir? Ver nascer o dia, pintado com o azul do jacarandá e dançar até que esta dor passe, quanto a mim, são razões suficientes. Das cores dos outros não sei.


http://youtu.be/cLQJVKP3YlM





1 comentário:

  1. Muito bom, como de costume! Ler os seus textos já faz parte do lado agradável da minha rotina.
    Continue!

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