terça-feira, 16 de julho de 2013

Um de cada lado, dois braços por cima dos meus ombros.

   As palavras saem-lhes atabalhoadas, a boca, a massa, o molho de tomate, o campeonato de remo, as estratégias no último jogo de computador. Desafiam-se, implicam um com o outro, os argumentos, os amigos da praia, a família dos amigos, o pai que está desempregado, eram ricos, mãe, os avós ajudam-nos, porque têm casa na praia e tudo, duas casas na praia e em praias diferentes, gosto muito deste meu amigo, também gosto dos pais e dos avós, continuam a contar o dia que passou, as histórias do primo e da outra prima que querem ter a mesma profissão e concorrem um com o outro, as tarde na praia com os primos mais pequenos, os jantares nas noites quentes,  os fins de semana em casa do pai e a família do outro lado, andar de autocarro, atravessar a cidade para ir para o remo e o jiu-jitsu, conjugar a conversa e a escolha da sobremesa, os livros a ler nas férias, as gargalhadas, porque os disparates saem, as bocas abriram-se mais, espirram um palavrão, o queijo ralado salpica a toalha, já toda a gente nas outras mesas os ouviu, não gostaram da gargalhada mais sonora, os crepes chegam quando a última aventura no barco foi explicada, minuto a minuto, teremos de vir mais cedo, temos de voltar na primeira semana de Setembro, no próximo campeonato não quero ficar tão mal classificado é uma vergonha para o treinador, quando chega o café, o estágio foi marcado para o próximo ano, com um dos maiores mestres do mundo, para o pai me deixar ir tenho de subir as notas, sobretudo a alemão, as vantagens de saber muitas línguas e de se poder ler e viajar, aprendem e tudo perguntam, o pontapé debaixo da mesa encalhou na minha bota, saiu a reprimenda e um desculpa, mãe, era para ele, não conseguem controlar o tom da voz, nem o tamanho das pernas, encalham nas cadeiras quando se levantam, deixam os talheres arrumados e a mesa ficou limpa, olham para trás, não esqueceram nada, certificaram-se, mais um encontrão. As cabeças no ar, olham em volta, têm o passo largo, a temperatura da rua lá fora e a temperatura cá dentro, não se separam, preparam mais uma conversa, pedem desculpa, o quarto não ficou muito bem arrumado, amanhã arrumamos, de certeza, estão do lado das certezas, pedem às férias que esperem, abrandam o passo o telefone tocou, falam à vez, perguntam se podem ir ver os jogos, mais razões a justificar a compra de uns auscultadores. Concordámos que seria no fim do mês. Parei. Esperaram, um de cada lado, estão muito altos, um braço e outro braço sobre os meus ombros, olham em volta, orgulhosos, levanto a cabeça, quero ver-lhes os olhos brilhantes, estamos os três colados e voou outra gargalhada, parámos e ficámos a ouvi-la. Em breve, estaremos juntos outra vez. 


Bon Jovi, We weren't born to follow
http://www.youtube.com/watch?v=qF3D2oiy6YA






  

Sem comentários:

Enviar um comentário