domingo, 14 de julho de 2013

Uma triste história de amor.




Sei de cor algumas histórias que li, ouvi ou inventei. Outras não sei se são deste mundo, ou de outro mundo qualquer. Histórias com pessoas, dor e sangue. De pele ferida. Incuráveis. Inseparáveis: o amor e o que ama. Como uma escultura a que não se consegue tirar a forma, nem o golpe que a desenha. Um corpo sem encaixar noutro corpo. O pormenor. A diferença entre o fim feliz e a história triste. E uma linha muito ténue a separar a realidade da ficção. Escolheu Paris, a pedra, o Sena e um mestre, a bela Camille Claudel. Um talento a insinuar-se  nas primeiras histórias que adivinhou, nos corpos que esculpiu. Estudou, preparou-se e o génio foi amadurecendo. Amou o mestre, sofreu os seus desvarios. Nasceu-lhe por dentro a perfeição das obras que compunham a sua vida. Um talento raro saia-lhe da ponta dos dedos. Ficou só com a pedra e os gatos.O mestre partiu.  Sofreu o amor perdido. Preencheu o seu silêncio com histórias que inventava. De um outro mundo. Incompreensível. Invulgar e desconfortável. Vendia a beleza que desenhava na pedra. Não sobreviveu: definhava e enlouquecia.  Assombrava o talento fanático do irmão Paul e a popularidade de Rodin. Amava e odiava o seu mestre, o mundo, as pessoas. O carácter, o sofrimento e sua a arte enfraqueceram-na. Loucura e paranóia, o diagnóstico. Falava-se de esquizofrenia e em mil novecentos e treze é internada num asilo. Convive com a doença, a alienação, as chagas da alma e do corpo durante trinta anos. Morreu triste, sem amor, sem liberdade e sem o seu trabalho. Infeliz e lúcida.
 Um talento invulgar, dir-se-á mais tarde.

Esta história de loucura e genialidade cresce nos olhos de Juliette Binoche. A belíssima Juliette Binoche, o mistral e uma paisagem árida. Uma triste história de amor e O Magnificat, de Bach a tirar-nos o ar. Bruno Dumont realiza ou esculpe a infeliz e bela Camille Claudel.
  
( Camille Athnaïse Cécile Cerveaux Prosper nasceu a oito de dezembro de mil oitocentos e sessenta e quatro a escultora Camille Claudel nasceu e morreu mais tarde, por amor e por talento.)









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