sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Dianne Reeves




Dianne Reeves

Dona de uma voz enorme, arrebatadora, um instrumento, mais um a entrar-nos pela pele. Boa disposição, ritmo, calor, groove e swing. Sintonia. Os músicos são uma família escolhida e falam a mesma língua. Apresentados, um a um a um, como uma cantiga. Rimos e batemos palmas. Gosta-se. Ouve-se a respiração. Partilha-se a alegria e o prazer de estar ali. Uma voz quente e de tudo a fazer uma canção - it's rainninig in the stage. In the stage, the rain. E choveu, no palco. Choveu mesmo, de verdade. Stormy Weather,  no início, assim tinha de ser. Não fazia  parte do improviso, mas ela improvisou logo ali o refrão. A gargalhada que nos contagia e trazemos para casa. Poderosa voz, elegantes de talento, os músicos, o improviso: uma boa noite de jazz. Our love is here to stay, no final, só ela e as mãos de Romero Lubambo, brasileiro do Rio, amado e companheiro de beautiful music e caipirinhaz, muitas noites, uma vida inteira, confessou-nos. Como se fôssemos íntimos. Fiquei com a voz, quando cheguei a casa, atirei: muito boa onda, um concerto com muito boa onda. Já se habituaram, não se importam de arrumar a cozinha, nem de ouvir Dianne Reeves nos próximos dias, os auscultadores, mãe, põe os auscultadores, por favor. Sou bem-mandada.  

Às vezes, uma  Beautiful Life.

Há quem compre viagens a preço da chuva, goste de marisco, vá a todas as estreias de teatro, lançamento de todos os livros, compre todos os livros.  Há quem faça yoga, sexo tântrico, saunas, puzzles, massagens em spas, viagens pelo país real. Há quem coma muitos chocolates. Nada contra. Eu vou à música. Compro o bilhete com muita antecedência. Nas primeiras filas. Plateia. A fila D é muito atrás. Vou sozinha. Triste? Não, não é. Não posso pedir a ninguém que goste da mesma canção e a queira ouvir três ou quatro meses depois. Quando vou acompanhada, o lugar é muito à frente, o lugar é muito atrás, já viste o vestido dela? Olha, repara naquele homem, não é nosso vizinho? Se calhar conheço-o da televisão e blá, blá, blá. Gosto de me concentrar e viajar até à canção de que sei letra, o ritmo que me leva para um qualquer sítio e, até, ouvir as conversas do casal ao meu lado, os miúdos que no fim assobiam, as amigas que compraram a assinatura e vão aos concertos, discutem o cabeleireiro, o filme, o livro de Saramago, quando as luzes da sala ainda se veem. Durante o concerto não existo, não tenho dores, não penso na vida, nada. Só a música e eu. Quanto baste.

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