terça-feira, 8 de outubro de 2013

Momentos






(-Farei o que me disse, Doutora. Tomar os medicamentos, transformar a adversidade em alegria. Repetir as análises. Claro, a felicidade é um estado de espírito, uma intenção. Uma vontade. O amor é um sentimento muito frágil, tem razão. Obrigada e até à próxima. Daqui a um mês?! Sim. Boa tarde. Não preciso de agradecer, eu sei. É o hábito.)

 

Entardecia.

O céu de um azul desbotado pelo laranja encarniçado do rasto que o sol deixara. Nenhum amarelo. Quente. Uma aguarela de azul misturado com verde. Laranja a misturar encarnado. Sem traço, nem margens. Cheio da luz e da água, que vem do Tejo. Corria pela cidade uma tépida aragem, o cinzento do fumo queimado, o outubro sem outono e a vontade de regressar. As janelas,  distantes e altas,  dos prédios a roçar o horizonte, percebia-se a rotina de sempre. Irregulares, traços de luz vermelha e amarela fugiam em sentido contrário. Riscos de luz que,  por momentos, me distraíram. Reparo na lua. Mentirosa, brilhante e recortada no céu que escurece. Um azul mais denso e sereno a receber a noite. Chego a casa, esqueço a cidade, o movimento e as cores. Fecho a porta. Dois abraços e aqueço a sopa. Amanhã, outro dia quente e soalheiro - estava escrito no céu.

 

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