(-Farei o que me disse, Doutora. Tomar os medicamentos, transformar
a adversidade em alegria. Repetir as análises. Claro, a felicidade é um estado
de espírito, uma intenção. Uma vontade. O amor é um sentimento muito frágil,
tem razão. Obrigada e até à próxima. Daqui a um mês?! Sim. Boa tarde. Não
preciso de agradecer, eu sei. É o hábito.)
Entardecia.
O céu de um azul desbotado
pelo laranja encarniçado do rasto que o sol deixara. Nenhum amarelo. Quente. Uma
aguarela de azul misturado com verde. Laranja a misturar encarnado. Sem traço,
nem margens. Cheio da luz e da água, que vem do Tejo. Corria pela cidade uma
tépida aragem, o cinzento do fumo queimado, o outubro sem outono e a vontade de
regressar. As janelas, distantes e
altas, dos prédios a roçar o horizonte,
percebia-se a rotina de sempre. Irregulares, traços de luz vermelha e amarela fugiam
em sentido contrário. Riscos de luz que, por momentos, me distraíram. Reparo na lua.
Mentirosa, brilhante e recortada no céu que escurece. Um azul mais denso e sereno
a receber a noite. Chego a casa, esqueço a cidade, o movimento e as cores.
Fecho a porta. Dois abraços e aqueço a sopa. Amanhã, outro dia quente e
soalheiro - estava escrito no céu.
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