(interpretação de Valentina Lisitza)
Mãe, tenho fome.
Chegou feliz, o miúdo, em
paz, as faces coradas do sol, da água, e do remo que arrasta a água e a vontade
de chegar mais à frente. Não lavou os dentes, durante cinco dias, comeu massa
instantânea, bolachas de chocolate, queijo e salsichas, dormiu no chão, acampar é muito desconfortável e tive frio,
vesti duas camisolas, o saco cama era grosso, mas senti as pedrinhas todas nas
costas, nas pernas, foi fixe, o melhor foi passar o dia inteiro a remar, remar,
conhecia toda a gente e amanhã temos de arrumar e limpar os barcos,
comprometi-me com o instrutor, mãe, estou cansado, vou tomar um banho de
banheira cheia, tenho fome, mãe, estou muito cansado, quero dormir. Sem
mais abraçou-me uma vez, depois deu-me mais um abraço e pediu-me que não lhe
passasse o telefone se alguém lhe ligasse. Uma hora depois, já dormia um sono
só, sereno, a sorrir, os braços esticados, lassos, ao longo do corpo leve. O
peso todo da cabeça aos pés, a entrar em silêncio num mundo que só ele sabe.
Deixou que o olhasse enquanto dormia, durante muito tempo. Respirava num ritmo
doce e feliz e lembrei-me das histórias que o embalavam e das que o faziam rir
à gargalhada e, como se o tempo tivesse parado, fomos, durante segundos, breves
segundos, a mãe o filho mais felizes do universo. Amanhã será outro dia.
E é assim... O tempo anda a passos largos. Nós bem queremos que ele ande ao nosso lado e não à frente, mas ele é assim: mal nos descuidamos... estamos a olhar para o menino que já não pede histórias para adormecer. Pede sim que não lhe passemos o telefone se alguém ligar. Mas antes ficou um abraço :) . Adorei o seu texto. São palavras de mãe... como eu :)
ResponderEliminarMuito obrigada, pelas suas palavras. Sim, são assim: mal olhamos para o lado, deixam de ser os filhos a quem contamos histórias para adormecer. Às vezes, primeiro deixam o a abraço. E isso é quanto baste, às vezes!
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