sexta-feira, 11 de abril de 2014

Quinta-feira, 10 de abril de 2014





 Quinta-feira, dez de abril de 2014, uma e meia da tarde.

Já lá estava. Chegou muito devagarinho, em silêncio e leve. Chama-se tristeza e tem todas as cores do arco-íris. A luz e a presença ficaram na memória. Não esqueço a imagem. Não esquecerei a imagem. Instalou-se e, no entanto, sabia que não seria diferente. Vou em frente, talvez um milagre, uma atitude mais compreensiva, pensei. Se me habituasse a pensar sem esperança, sem expectativa. Pensar que à frente está um buraco negro. E os milagres não existem. Continuo a andar, acelero o passo, impõe-se a presença de um milagre. Ele ficaria tão feliz! Tenho o coração desalmado. Subo as escadas de mármore, não vejo ninguém, mas estão lá todos. O átrio é grande, luminoso e barulhento. Vejo uma amiga. Olho para a vitrine grande, transparente, cheia de dedadas e reflexos de outros rostos. Oiço a minha ansiedade, disfarço a tristeza. As cores do arco-íris, certo? Levanto um pouco a cabeça, começo a andar para a esquerda, para o princípio, procuro. Procuro o nome completo. À frente, colado ao vidro. O papel em branco, uma tira de papel branco, riscas azuis e umas letras e algarismos a preto. Bem alinhados. Muito certo, organizado, um Excel perfeito. Boa impressão. Encontro o nome completo, leio tudo uma vez, depois uma segunda vez. Não tenho dúvidas. Não valeu a esperança. Não sou uma pessoa de fé, não rezei. E uma dor muito fininha, muito fria, de ferro e gelo no meu coração. A doer-me. Dói um rio. Saltam as lágrimas, nem ligo ao borrão que ficará, mas meto-as para dentro. Respiro fundo, não sou capaz de fazer mais nada. A amiga vem, gentil, falar comigo. Por favor, não me digas nada, deixa-me, por favor, tu não compreendes e ainda bem, por favor. Desculpa! Afasto-me. Corro para nada, para fugir. Não me afasto muito. Não posso fugir. Quero. Não posso. As lágrimas continuam fechadas. Olho em volta. Procuro o corredor principal. As salas todas iguais. Onde raio será a sala 18? E a dor continua, muito fina, a cortar-me o ar. Não consigo respirar. Uma agulha muito fina.E mais nada.

- Está decidido, passarei a tarde no cinema!)

 





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