Quinta-feira, dez de abril de 2014, uma e meia
da tarde.
Já lá estava. Chegou
muito devagarinho, em silêncio e leve. Chama-se tristeza e tem todas as cores
do arco-íris. A luz e a presença ficaram na memória. Não esqueço a imagem.
Não esquecerei a imagem. Instalou-se e, no entanto, sabia que não seria
diferente. Vou em frente, talvez um
milagre, uma atitude mais compreensiva, pensei. Se me habituasse a pensar sem esperança, sem expectativa. Pensar que à
frente está um buraco negro. E os milagres não existem. Continuo a andar,
acelero o passo, impõe-se a presença de
um milagre. Ele ficaria tão feliz! Tenho o coração desalmado. Subo as
escadas de mármore, não vejo ninguém, mas estão lá todos. O átrio é grande,
luminoso e barulhento. Vejo uma amiga. Olho para a vitrine grande,
transparente, cheia de dedadas e reflexos de outros rostos. Oiço a minha
ansiedade, disfarço a tristeza. As cores
do arco-íris, certo? Levanto um pouco a cabeça, começo a andar para a
esquerda, para o princípio, procuro. Procuro o nome completo. À frente, colado
ao vidro. O papel em branco, uma tira de papel branco, riscas azuis e umas letras
e algarismos a preto. Bem alinhados. Muito certo, organizado, um Excel perfeito. Boa impressão. Encontro
o nome completo, leio tudo uma vez, depois uma segunda vez. Não tenho dúvidas.
Não valeu a esperança. Não sou uma pessoa de fé, não rezei. E uma dor muito
fininha, muito fria, de ferro e gelo no meu coração. A doer-me. Dói um rio.
Saltam as lágrimas, nem ligo ao borrão que ficará, mas meto-as para dentro.
Respiro fundo, não sou capaz de fazer mais nada. A amiga vem, gentil, falar
comigo. Por favor, não me digas nada,
deixa-me, por favor, tu não compreendes e ainda bem, por favor. Desculpa!
Afasto-me. Corro para nada, para fugir. Não me afasto muito. Não posso fugir.
Quero. Não posso. As lágrimas continuam fechadas. Olho em volta. Procuro o
corredor principal. As salas todas iguais.
Onde raio será a sala 18? E a dor continua, muito fina, a cortar-me o
ar. Não consigo respirar. Uma agulha muito fina.E mais nada.
( - Está
decidido, passarei a tarde no cinema!)
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