domingo, 26 de maio de 2013

Infância

                                                                                                                                                Modigliani,Alicce


                                                                         Infância.

É lá que tudo vamos buscar. É de lá que viemos e chegámos inteiros ao que hoje somos. É de lá que trouxemos o pão e o vinho. E o sal. E o riso. É de lá que os sonhos vieram. A infância é a certeza que temos sempre. Somos a Infância que tivemos. Talvez. Sim! Com uma ou outra pincelada e derrota vamos fazendo e desfazendo o rasto das alegrias e tristezas, que na infância nos foi revelado. À infância regressamos como um colo que nunca perdemos. Às memórias vamos buscar a segurança para pisarmos solo novo. Virgem. Os retratos em molduras, as rendas dos vestidos, os laços no cabelo, a arranhadela nos joelhos, o berlinde, o pião, a boneca de papel para vestir, a vergonha das primeiras lágrimas, as primeiras sílabas que juntámos. Pueris. Procuramos os heróis nas linhas de palavras que lemos. Soletrámos. Sublinhámos. Com os dedos, parágrafo a parágrafo. Fugimos para onde  nos quiseram levar - países perdidos ao longe e distantes. Outro tempo. Na infância. Num minuto, tudo muito bem arrumado. Sem nostalgia, não precisamos dela: não se volta ao pião que se lançou, nem à boneca que se rasgou e perdeu a cabeça. Isso não. Nostalgia. Não.
 
É uma pele boa - nossa - por dento e por fora. O lugar  onde voltamos sempre. Onde não podemos chegar, porque nunca de lá saímos. A velha infância.
 
(Boa Tarde)
 
 

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