sexta-feira, 24 de maio de 2013

"Que mãe, tão pouco mãe, que esta mãe é!"

 
                                           Edward Hopper,Sun in a Empty Room







Há momentos únicos. Carregados de “mágicos cansaços”. Mas mágicos. Íntimos momentos.   Mais ao longe, um muito discreto zunido de frigorífico. Embala. Diz-me que estou em casa. Silêncio quase. São minutos raros de serenidade, reflexos dourados nas paredes da sala onde me sento para ler. Pensar. Partir para outros sonhos. Não fazer. A casa cheira a limpa e arrumada. As casas cheiram diferente ao longo do dia. O fogão já cumpriu. Parei. Nem me atrevo a perturbar o ar. Nem com música. Nem com suspiros. Afasto pensamentos mais ruidosos, saboreio a paz. A cor das paredes vai mudando, ainda não acendo a outra luz. Deixo-me estar. Alma e corpo quase na penumbra. Que o telefone não toque e que à porta ninguém me chame. Neste momento não. Ainda não. A noite há de chegar. Ainda não. Preciso de ficar quieta mais um rasto de ouro que na parede se vai apagando. Quase a apagar-se.


 


(As crianças, entretanto, saíram para acabar o dia - Que mãe, tão pouco mãe, que esta mãe é!)



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