Há momentos únicos. Carregados de
“mágicos cansaços”. Mas mágicos. Íntimos momentos. Mais ao longe, um muito discreto zunido de
frigorífico. Embala. Diz-me que estou em casa. Silêncio quase. São minutos
raros de serenidade, reflexos dourados nas paredes da sala onde me sento para
ler. Pensar. Partir para outros sonhos. Não fazer. A casa cheira a limpa e
arrumada. As casas cheiram diferente ao longo do dia. O fogão já cumpriu.
Parei. Nem me atrevo a perturbar o ar. Nem com música. Nem com suspiros. Afasto
pensamentos mais ruidosos, saboreio a paz. A cor das paredes vai mudando, ainda
não acendo a outra luz. Deixo-me estar. Alma e corpo quase na penumbra. Que o
telefone não toque e que à porta ninguém me chame. Neste momento não. Ainda
não. A noite há de chegar. Ainda não. Preciso de ficar quieta mais um rasto de
ouro que na parede se vai apagando. Quase a apagar-se.
(As crianças, entretanto, saíram
para acabar o dia - Que mãe, tão pouco
mãe, que esta mãe é!)
Bonito texto, Linda. Bjs
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