Lua
A
lua, uma lua redonda, uma lua bela e maior que a nossa mão aberta, a lua que mudou
de cor e apareceu laranja e encarniçada, por trás de umas muralhas que não
conheço. Rodeada de amigos, numa outra cidade, a lua que só voltaremos a ver - igual
- daqui a dezoito anos, pareceu-me bela e grande. Mais nada. Para uma amiga do
coração (de onde mais poderia ser?), o luar não foi um belo luar. Não, minha
amiga, para ti hoje não houve um belo luar. Daqui, a muitos anos. Talvez. Um
lugar feliz na tua memória. A tua mãe partiu ontem, estava doente. Tu estiveste
sempre ali. A seu lado. Lutaram juntas. «Ela partiu. Estávamos as quatro - eu e as minhas irmãs. Cantámos
canções de quando éramos crianças e a minha mãe foi fechando os olhos
devagarinho, nós ouvimos o seu último suspiro. Partiu em paz. Gosto de pensar
que ela já não sentia as dores». Quando a lua, belíssima lua, surgiu por trás
daquelas muralhas, a tua dor não diminuiu, tu nem sequer para cima olhaste. Já
não tinhas lágrimas. «De repente, fiquei mais serena, tenho-vos aqui, comigo. E estou mais
só. Ficarei mais só, partiu com ela uma parte de mim que só a nós duas pertencia.
Verei o mundo de uma outra forma. A minha mãe já não estará à janela, ao sol, não
me dirá como se cozinha o melhor arroz doce, nem leremos as duas os seus versos.
Leram o poema que escolhemos? O vosso abraço serenou-me. Como será amanhã? E o
dia depois de amanhã? E depois? A vida continua, não é o que se costuma dizer?
Não será a mesma vida? A de sempre, pois não?»
Que importa a cor da
lua? Minha amiga, de coração, pede-me os abraços que precisares. Pede o que
quiseres. Que importa, agora, o tamanho da lua?
Sem comentários:
Enviar um comentário