domingo, 16 de junho de 2013

Un billet doux : J'aime Paris au mois de mai - Charles Aznavour & Dianne Reeves



                            
Un billet doux


Meu Amor


Tive de partir mais cedo, desculpa. Serei breve. Não te acordei. Não tive coragem. Conversámos até tão tarde e vinhas tão cansado. Tão preocupado. Tão distante de tudo o que prometemos um ao outro. Tivemos ambos um dia difícil. Acontece. E, como sabes, nem sempre é como a imaginámos, a vida. Adiante. Saí a correr - hoje trabalharei até mais tarde. À noite já cá não estarei. Deixo-te um copo de sumo ao lado do jornal, aí na mesa da cozinha. Fiz café. Na tua gaveta da cómoda encontrarás as  camisas. As  gravatas também estão arrumadas como tu gostas. (mas que conversa é esta?) Sacudirás o sono e o cansaço como entenderes. O tempo  pertence-te. Tens, por aí, espalhados pela casa, restos de mim, da minha pele, dos meus beijos. Que poderemos fazer? O meu cheiro ficou na almofada e não consegui arrumar o meu desgosto a contento dos dois. Será melhor assim, as palavras já não nos chegam. A vida correu-nos para lugares diferentes. Deita fora a mágoa. Não deixes a tigela da gata sem comida e, se não te entenderes com a marca da ração, pede ajuda à Dª Josefina. Não consegui arrumar os meus sapatos e ainda há caixas com fotografias na escada, ao lado da janela da sala, por favor, não me deites fora. Virei buscar tudo, de acordo com o que escolhemos ser. Meu amor - ainda é esse o teu nome - não desistas das recordações: neste momento, não temos mais nada. Não desistas. Não te deixes ir. Desculpa, correr assim, sem me despedir, sem ouvirmos as nossas vozes. Tenho pressa, não sei dizer adeus. Perdoa-me. Mas às vezes, tantas vezes, faltava-me o ar e o nosso quotidiano agarrou-nos e esquecemos de dar as mãos. A culpa não é tua. A culpa não é minha- não há culpa, não pode haver dor. Não permitas a dor a teu lado. Vou-me embora. Decidimos que eu partiria primeiro - já dissemos tudo isto um ao outro! Confessámos as palavras necessárias. Escolhemos - acabou por acontecer - separar os livros e os chapéus. Não consigo dizer mais nada. Talvez penses que sou egoísta, talvez seja. Mas já não olhávamos um para o outro. Tínhamos por companhia uma solidão que acordava sempre à mesma hora. Tornámo-nos transparentes. Gemíamos de impaciência. Não sei quando começámos vazios um do outro. Não sei quando os silêncios começaram a doer, não sei. És muito distraída. Costumavas dizer. Não sabemos. Desculpa, um ou outro beijo que tenha ficado por arrumar. Mas não te quis acordar. Desculpa os minutos que ficarás com este bilhete nas mãos. Não choremos, por favor. Deixemo-nos ficar na moldura. A sorrir. 
Eu prometia umas palavras breves, escritas à pressa.... 
Não posso partir com um beijo na porta do frigorífico. Não consigo! 
Adeus  

P.S. Vou esta noite para Paris. Sozinha.

Sabes como gosto de Paris no mês de maio!  

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