AMIGOS
Pediu autorização para
almoçar em casa de um amigo, com outros amigos. A tarde arrastou-se depois do
almoço, conversavam. Entendem-se. Fazem parte da mesma matilha. Amigos na sala
de aula. Amigos no desporto. Amigos com a tarde sem trabalhos de casa a fazer-lhes
companhia. O corpo que já não cabe no colo e abraços de ternura. Muita candura
e o mundo lá fora. Sonham. Esperam. Crescem. A barba já se começou a espalhar,
sem borbulhas. (“Que assim continuem!”). Treinaram um sorriso, sem querer, a
t-shirt tem um propósito e as calças têm de assentar sem vincos. As pastilhas
de mentol guardadas no bolso de trás. A nota dobrada e à espera no bolsinho
mais pequeno. Um rapaz e os seus amigos. Nos intervalos, uns com os outros
olham de soslaio para umas calças mais justas, um corpo mais feito, uns olhos
carregados de promessas e lápis preto. ” Que saiba quem foi Picasso, de
preferência”, diz um rapaz. Os amigos irão continuar a conversa que se
arrastou depois do almoço. Têm ainda uns minutos, preparam a estratégia, combinam
o encontro, ouvem mais uma vez as regras. Dizem que sim. Os corações saltam.
Maiores do que o peito. As mãos ficarão molhadas quando agarrarem o copo da
primeira imperial. Sede, desejo, ansiedade, medo e curiosidade, ali, a seu lado.
A sorrir, na blusa às flores e nas unhas pintadas de cor de laranja. A prometer
a primeira conversa de cabelos aos caracóis, mistérios que se querem desvendar
e agarrar aos dedos. Algumas unhas roídas até ao sangue. Uns amigos, à vontade,
numa noite. A primeira noite de festa. Afastados o espaço do olhar que coube a
cada um deles. Limpam as mãos nas calças de ganga, oferecem o seu prato de
batatas fritas e conversam sobre o que gostam e os faz rir. Os amigos estão
felizes. A música que ouvirão a seguir não lhes sairá da cabeça, nos próximos
dias.
Nem do coração.
Nem do coração.
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