sábado, 8 de junho de 2013

Quando há aguarelas em junho






Fotografia de Guida Machado, Blog O meu olhar esquerdo.







O sol e a chuva dos dias de chuva, e as nuvens no céu. Passeios com gente e passeios de gente. À chuva, apressadas e devagar, a gostar e a esconder-se. Debaixo dos toldos, nos prédios de porta aberta. Nos automóveis. No café onde se sentam. Ou em pé. Os casacos de seda e água. O vestido de verão colado à intimidade, as sandálias a arrefecer os pés, os papéis desfeitos, as figuras, um borrão a preto e branco, do jornal do dia, a tapar um decote e o cabelo. Também correm. Encolhem-se nas montras, nas paragens. O metro como um buraco a chamar quem foge. Entram. O calor a cheirar a metal que range nos carris. Abrigam-se de um desespero fora de tempo. A chuva é visita sem cerimónia e educação. Um arrepio. Chegou e com a primavera fez uma aguarela. Nas ruas. Um ponto e outro ponto com mais luz. Um sol esquivo a refletir-se no espelho que parou à espera de outras nuvens. Brincam. Arrastam-se ao som do vento. Um cinzento carregado a ir e avir. Persistente. Talvez desafie um trovão, escreva o lume de um relâmpago. Apagam-se as cores do dia que foi de sol e água. Homens e mulheres atravessam. Às vezes. Hesitam. Atiram-se para a frente de um sinal verde, em cima do encarnado, no minuto que estremeceu nos ponteiros do relógio. Mais escuro, o rio, ao longe. Indefinido. Mancha de cinzento-tejo e cinzento-céu. Brilham as primeiras luzes da noite. Percebemos contas de vidro, ouro e prata. A avenida desliza até à margem e, de costas, abandona o dia que foi de nuvens e gente nos passeios. Largos. A andar à pressa. A andar devagar. Neste dia. E o rio mais perto. Intermitente. No horizonte. Já sem sol. Quando há aguarelas em junho.

(Ainda chovia quando entrei em casa.)

 

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