sexta-feira, 28 de junho de 2013

As Palavras


                                         

                                                                     As palavras
No princípio era o verbo. Sabemos. E quanto vale um silêncio recomendamos aos nossos. Têm um dom: têm vários dons, têm várias vozes, várias peles, várias linhas que se cruzam e se descobrem e se despem e vestem com pudor, ou sem pudor. Tão traiçoeiras, feiticeiras e fadas que a enganos e certezas se oferecem. Num momento, a promessa de uma palavra que pertence, no momento seguinte, perdida. A promessa não se disse. Segredo à luz. Dor que poderia não rimar, ou rimar, ou soletrar, apenas, amor e esquecer. Dito. Não dito. A palavra e o eco que se quis ouvir. Certa. Insinua-se, faz-se de surpresa. O ar de um suspiro, quando de pedra, que nem nós somos, queremos que seja. Palavra, para sempre a pertencer, sem dúvida, sem sofrimento, a rimar  por dentro. Um entendimento, um escasso segundo, o devaneio leva-a o vento, a rimar com desalento. Disse. Não dito. Conjugações, pronomes  sem pessoas como se a nenhuma boca tivessem pertencido. Agarram-se ao quente, acomodam-se no calor, pedem colo, sexo, prazer e a mão. Na mão. Na nuvem, a um só céu pertenceram. Fugidias sem memória e sem tempo. Granito, betão, ou vidro, tanto faz. Valem o escasso momento do sonho que foram. Soletradas. Afagos. As palavras, como se no plural fossem, falam. A palavra, no singular, quando a um só abraço pertence e é. Água, chão, nudez, canto, braço, coração, dedos, cabeça e pés. Tudo se mistura. Quando se pertence na palavra certa que sem tempo, a um tempo, a dois, a um pertenceu. Foi. O momento. Caiu no chão desfez-se em saudade e tristeza, na promessa que saiu, de dentro, de verdade e à verdade daquele momento, apenas, pertenceu. Desarranjam-se num instante e quebram a eternidade que vale um suspiro. A palavra de tudo é ar, cama e berço. As palavras são de ninguém, de nada e no chão rolam e voltam. As palavras. E a palavra, verbo é no princípio. Onde começa. Onde morre. E em fumo se esvai ferida aberta de sentimento. Ou grito. As palavras. A palavra.

(A palavra não vale. Sente o que queiramos que valha. Vale o que quisemos sentir. E,em silêncio,adormecemos.)




Sem comentários:

Enviar um comentário